Wednesday, May 16, 2012

Frase do Dia #31

Outro russo. Este, de seu nome Máximo Gorki, escreve desapaixonadamente o seguinte, em Vinte e Seis e Mais Uma:

«O silêncio é terrível e doloroso apenas para aqueles que disseram tudo e já nada têm para dizer, enquanto, para aqueles que nunca tiveram nada para dizer, o silêncio é simples e fácil...»

That's it.

Wednesday, May 2, 2012

Frase do Dia #30

O Crocodilo, de Fiódor Dostoievsky, é um manancial de trechos fabulosos (e absurdos, também). Começo aqui por citar um dos diálogos que considero mais interessantes:

[Contextualização: um homem, Ivan Matveitch, vai ver uma exposição onde figura um crocodilo e acaba na barriga do animal. Um amigo do homem na barriga do crocodilo procura soluções para o ajudar e pede conselho a um funcionário seu colega mais velho, Timofey Semyonitch.]

«- Imagine - afirmou ele -, sempre pensei que isto lhe acabaria por acontecer, certamente.
- Porquê, Timofey Semyonitch? É um incidente deveras invulgar...
- Admito-o. Mas toda a carreira do Ivan Matveitch no emprego estava a caminhar para este fim. Ele era deveras inconsistente e presunçoso. Estava sempre a falar do progresso e de ideias de todos os tipos, e é isto que o progresso traz às pessoas!
- Mas foi um incidente invulgar e não pode servir de regra aplicável a todos os progressistas.
- Sim, com efeito, pode. Garanto-lhe que é o resultado de instrução a mais. Pois a instrução a mais leva as pessoas a meterem o nariz onde não são chamadas.
[...]
- Ivan Matveitch anseia pelos seus conselhos, anseia pela sua orientação. Ele suplica por eles, com lágrimas nos olhos, por assim dizer.
- Com lágrimas nos olhos, por assim dizer! Hum! Isso são lágrimas de crocodilo e não se pode confiar muito nelas.»

Tuesday, May 1, 2012

Frase do Dia #29

A propósito dos livros velhos (re)encontrados no escritório e dos russos, eis este trecho retirado do mini-livro Contra o Fanatismo de Amos Oz, que foi oferecido, num dia já distante, com o jornal Público:

«O bairro estava cheio de tolstoianos - pessoas que acreditavam na ideologia de Tolstoi -, alguns até tinham o mesmo aspecto e vestiam-se como Tolstoi. Deixavam crescer a mesma barba branca e usavam uma espécie de toga russa cingida por uma corda. Pareciam mais tolstoianos do que o próprio Tolstoi. Quando, pela primeira vez, vi uma fotografia de Tolstoi na contracapa de um dos seus romances, estava convencido de que era alguém do nosso bairro. [...] Deste modo, eram tolstoianos, mas muitos deles tinham saído directamente de um romance de Dostoievski porque tinham uma mente e uma alma muito torturadas, cheias de contradições, de raiva e conflito. Diria até mais: aqueles dostoievskianos tolstoianos pertenciam, na realidade, a uma história de Tchekov. O espírito real do bairro não era nem Tolstoi nem Dostoievski: era Tchekov. A nostalgia de lugares longínquos. Em algum lugar para lá do horizonte estava a amada cidade de Moscovo, Moscovo...»