Monday, October 29, 2012

Frase do Dia #33

No fundo de uma «espéce» de arquivo, encontrei este pedaço de texto retirado quase do final de Up at the Villa, de William Somerset Maugham, cujo título em português é transformado em Paixão em Florença. Não concordo com a tradução, até porque bem vistas as coisas, a acção passa-se fora de Florença, assim tipo Fiesole e se há ali paixão, é porque o sentimento é turbulento, até porque no final acaba tudo muito mal. Para quem não quiser ler, há um filme (que por acaso nunca vi) com a Kristin Scott Thomas e o Sean Penn.

«- Mas quais são os seus planos para o futuro?
(...)
- Não me faça pensar nisso agora. Deixe-me desfrutar deste momento precioso. Nunca me aconteceu nada assim em toda a minha vida. Quero apreciar isto para que independentemente do que me aconteça depois, seja uma lembrança que poderei guardar para sempre como um tesouro.»

Saturday, October 27, 2012

Tesourinho deprimente #1 ou série «Das coincidências»


Porcellino I, Março/Abril 2003. Veio uma vaga de calor - contrariando a previsão da vaga de frio - que tornou todos os casacos que levava obsoletos e me fez usar a mesma t-shirt durante alguns dias.


Porcellino II, Setembro 2005. Estava à procura de casa em Florença. Iria acabar por morar em San Frediano, no Oltrarno, bem perto de onde ainda hoje se situa uma das velhas portas da cidade.*


Porcellino III, Janeiro 2009. Fui a Florença cerca de três anos depois de ter deixado a cidade. Já não há comboios que não sejam o Eurostar a ligar directamente Milão a Florença. Fiz a viagem «partida» mas, por causa do forte nevoeiro, acabei por perder o comboio que deveria ter apanhado em Parma. Queria evitar o Eurostar e acabei por viajar nele a partir de Bolonha até Florença. Regressar foi esquisito como o raio.

*A t-shirt é a mesma, apesar de em 2005 ter 25 quilos de roupa para vestir nos meses que se seguiam.

Friday, October 19, 2012

Sem número, número 8


Aquele momento em que finalmente se guardou tudo, fechou-se o documento e, preparando-se para encerrar o computador e finalmente ir dormir, na playlist surge uma música que se queria mesmo ouvir.

Tuesday, October 9, 2012

Sem número, número 7


Hoje passei o dia inteiro com a sensação que estava na Malásia. Pelo menos, da última vez que senti tanta humidade no ar, estava em Kuala Lumpur. E deve ter sido especificamente em Merdeka Square. Gosto muito de dizer «merdeka», que em malaio significa «liberdade». Ainda assim, até hoje me questiono porque uma palavra com tantas semelhanças com um palavrão em português terá um significado tão nobre em malaio. Até porque os portugueses andaram por lá perto, em Malaca. Eu não sou de intrigas, mas isto cá para mim quer dizer qualquer coisa.

Tuesday, October 2, 2012

Sem número, número 6 (parte I)

[A mia ilustríssima Sorella - que tanto respeito e admiro que até escrevo o nosso grau de parentesco com letra maiúscula - disse-me, há dias, que do que ela gostava por estas bandas eram as pequenas estórias parvas que «contava». Atendendo ao seu pedido, aqui vai outra. Das bandas do Oriente, pois claro, porque por lá, meia volta, aconteciam coisas «diferentes». Ah, e já agora, porque quem manda aqui sou eu, posso contar as estórias enquadrando-as como a minha mãe. Ou seja, mencionando pormenores irrelevantes. E dito isto, cá vou eu.]

Como as duas ou três pessoas que lêem este blogue já devem saber - até porque, certamente, são membros da minha família próxima - fui ao Japão há uns anos. Era Primavera e ao nascer do dia, os corvos pousavam nas cerejeiras e podíamos escutá-los no hostel onde estava e... e isto não tem nada a ver com o que quero contar. Era só para acrescentar uns pormenores irrelevantes como às vezes a Mãe faz. Busted!


No tal hostel onde fiquei havia muitos turistas ocidentais e, metendo conversa ao pequeno-almoço uns com os outros na sala comum, fomos saindo em grupos. Sai com um rapaz belga, da Flandres - todos parecem ser de lá - e fomos a Ozakajó, o castelo de Osaka, para depois apanharmos o comboio para Nara.

O moço belga e eu pedimos indicações a um tipo que estava no hostel e que já estava no Japão há uns meses. Ele lá nos disse que tínhamos de passar do metro para a linha do comboio e assinalou num esquema dos meios de transporte cheio de linhas e cores diferentes o percurso que tínhamos de fazer. Hoje já não conseguiria orientar-me sozinha com aquele esquema, porque tudo parecia igual. Caminhos-de-ferro estatais, caminhos-de-ferro privados, loop-line, metro, tudo era o mesmo: linhas cinzentas de gradação diferente num pedaço de papel com uns nomes em alfabeto latino. Aliás, ainda hoje guardo esse esquema e, de cada vez que olho para ele, penso em como terei conseguido sair dali para o aeroporto seguindo as orientações da folha.

A aventura começou logo na primeira estação de metro. Se a memória ainda me é fiel, tínhamos de comprar os bilhetes de metro sabendo para que estação ou grupo de estações nos dirigíamos. Ficámos a olhar durante algum tempo para o esquema na parede da estação, em frente da parede com as máquinas de bilhetes, até que, por não nos entendermos bem nesse ponto, o rapaz apontou para o botão que dizia «Se necessitar de informações carregue aqui» (ou uma coisa do género) e disse que o melhor era falar com alguém dali que nos explicasse como era aquilo. Ele carregou no botão e esticámos as orelhas para escutar bem a voz. E eis que, subitamente, uma cabeça surge da parede, para grande espanto nosso. Uma cabeça a sair da parede, do meio das máquinas encastradas. Saltámos nos nossos lugares, tal o susto, e tenho a certeza que ficámos de olhos bem arregalados a olhar para aquela cabeça que, no mesmo segundo que sai cá para fora, arranca-nos as moedas das mãos, mete na máquina e recolhe-se à parede. Foi tudo muito rápido, mas ainda deu para espreitarmos e percebermos que o interior da parede comportava uma pequena salinha onde o homem passaria as suas horas (ou dias) de trabalho. Agora, sempre que no metro, em Lisboa, os meus olhos pousam naqueles botões próximos das saídas em que deve estar escrito algo como «Para informações, ou falar com um funcionário, carregue aqui», eu penso na cabeça que sai da parede.

[To be continued...]