Wednesday, November 20, 2013

Looking at the bright side of life #2

Procurando conforto e algum sentido na vida, pensando, uma vez mais, nos Python, creio que há um lado bom e motivos para olhar para ele: deixar de conviver com alguém que nos faz sentir diariamente estúpidos e incapazes, é capaz de ser uma coisa positiva. Quiçá, talvez ajude a melhorar a auto-estima, assim, na loucura. Ou não.

Logo se verá.

Thursday, November 14, 2013

Looking at the bright side of life #1

Mirando a caixa com todos os conteúdos alguma vez criados pelos Monty Python, lembrei-me que, olhando para o lado positivo da minha situação, de uma coisa podia estar certa:

Desde que o grande terramoto não ocorra até à primeira quinta-feira de Dezembro, já não morro dessa catástrofe natural. 

E regojizo e exulto e cenas.

Sunday, November 10, 2013

Sem número, número 18

Os domingos são os dias mais difíceis. Aos domingos contam-se os dias em falta até ao final do mês de Novembro. Quantas segundas-feiras existem ainda. Quantos dias úteis falta sofrer até que Dezembro chegue.

Os domingos nem sempre foram assim. Mas uma pessoa tem de se adaptar para evoluir. O único obstáculo é que é difícil a adaptação a uma situação à qual ainda não nos podemos adaptar porque ainda não existe de facto.

E perdida em cálculos e previsões, concluo: o valor de uma pessoa não é o conjunto de todas as suas partes; o valor de uma pessoa tem de ser traduzível numa unidade monetária. Contudo, no final, uma pessoa não vale nada: sendo substituível, perde qualquer importância que possa ter. Como pratos, talheres ou copos descartáveis. E faz sentido: quem se há-de afeiçoar, ou sequer dar importância, a um copo de plástico, sujo, quando tem mais 15 prontos a usar?

Posto isto, sinto-me apta a reformular a Lei de Lavoisier: na realidade, nada se perde, porque nada importa.

Friday, November 8, 2013

Cenas e coisas que tais aleatórias #2

Em Heidelberg, no topo da montanha (ao qual demoraram mais de duas horas a chegar), caminham até chegar a uma escadaria, para Ela desconhecida.


Ela: «Ah, que bonito. E no topo da montanha. Para que foi construído?
Ele: «Era um anfiteatro nazi.»
Ela: ...

Thursday, October 10, 2013

Frase(s) do Dia #52

Ou, citando o senhor Cleese: «And now for something completely different.»

Limpando o e-mail dos anúncios de emprego que nunca se deixaram de subscrever, apareceu isto:

Post: procuramos blogger para blog de uma rede social portuguesa

Procuramos blogger para elaborar artigos diários para o blog de um site de uma Rede Social de Encontros entre pessoas casadas.
O trabalho será para ser feito em part-time e a partir de casa.
A Rede Social facilita encontros entre pessoas casadas.
Deverá de possuir uma boa capacidade de escrita e uma grande imaginação.
O blogger deverá de escrever um artigo diário sobre infidelidade, relações, casamento, aventuras amorosas, etc .
[...]
Os artigos serão colocados directamente no blog da nossa rede social casadasinfieis.com, e será um trabalho a longo prazo e bem remunerado.

Thank you dear Sir Tim Berners-Lee for providing bored married women some extra-marital fun. (Or not.) -.-

Wednesday, October 9, 2013

Depois do adeus

Em Frankfurt, sentimos o céu esmagar-nos, descendo sobre as nossas cabeças, pressionando-nos contra o chão.

Era o final do mês de Julho, início de Agosto. Não chovia ainda, mas o céu erguia-se cinzento na ponta dos arranha-céus. Era um mês atípico na cidade, mas ainda assim, o bulício rotineiro do seu dia-a-dia era perceptível. Atravessando as largas avenidas que abriam caminho entre os altos edifícios, alguns símbolos germânicos pareciam fazer sentido, como se de um prolongamento da cidade se tratassem: o tom escuro dos fatos Hugo Boss, o preto dos Mercedes-Benz e dos BMW que povoavam a cinzenta urbe. Era uma cidade ventosa, fria, onde o céu era um espelho dos monumentais prédios de vidro e aço.

Os arranha-céus roçavam os céus forrados de nuvens escuras e o vento varria as avenidas, anunciando a tempestade. Subitamente sentiram algumas gotas cair e, ainda em silêncio, apressaram o passo em direcção ao carro.

Ela não sabia bem porque ali estava. «Naquela direcção?». «Sim, vamos», respondia ele nos seus diálogos que lentamente se estavam a transformar em monólogos. Ela já não tinha mais nada para lhe dizer. Mas talvez ele também não estivesse interessado.

Ela inquietava-se por não saber explicar porque estava ali. «Pelo menos aqui já não chove», pensava. «Pelo menos já não está tanto calor», dizia si mesma, como que procurando um qualquer motivo de consolação que a impedisse de sentir o peso que carregava dentro de si. Mas não estava a resultar.

«Como ficámos assim?», questionava-se. Como deixou se deixou chegar àquele ponto? Quando se tinham perdido um do outro?» «Um capricho», pensaria anos mais tarde. «Um capricho pelo qual me deixei embalar». A culpa não era exclusivamente dele, porque ela o deixara levar a sua dignidade. Por isso sentia o peso da culpa. E da vergonha. A dignidade era o que mais valorizava e deixara-o arrasá-la, porque julgava que o amava. Mas não sentia amor.

A situação era ridícula e sabia-o. Perdera tudo em poucas horas. Consolava-a apenas saber que, na realidade, a responsabilidade pertencia a ambos. Sabia também que quem ama, perdoa. E ele não lhe perdoara o momento em que perdera a calma e se vira despojada de toda a racionalidade.

Era complicado. Fora tudo muito confuso. Amor e raiva misturavam-se. Mas, como sempre, não adiantava pensar nisso. «Já passou», dizia, procurando convencer-se. Talvez nunca tenha compreendido o que aconteceu naquela cidade cinzenta, quando ambos passeavam de rostos pesados. Não eram mais amantes, porque o amor se desvanecera. Não eram namorados, porque o afecto desaparecera. Restava somente o conforto da  realidade, de que ninguém agiu mal, que ambos se magoaram. Mas era assim que devia ter sido. Era suposto ela sofrer. E era suposto ele crescer.

[O bonito céu de Francoforte em pleno Verão.]

[Publicado originalmente a 10 de Junho de 2008.]

Tuesday, October 8, 2013

Desejo #1

Indo pé ante pé, sem ambicionar demasiado, pensando nas pequenas coisas, esta semana desejo apenas que a Academia Sueca não se lembre de premiar com o Nobel um escritor de nome imperceptível.

(E claro que desejo, como já é hábito, que o grande terramoto que está para vir não me mate esta semana.)

Monday, October 7, 2013

Dúvida #1

Porque é que o coração, sendo um músculo, não se consegue adaptar à dor?

Saturday, October 5, 2013

To be, or not to be

Estar ou não estar. Sentir ou não sentir.

Agradecer ao acaso o acaso.

Resignar-se com a brevidade.

Resignar-se.

Saturday, September 21, 2013

A Saturday of one’s own

Acordar às 10.00, mas ficar na cama até às 11.30. Levantar-se, fazer café, torradas e come-las acompanhadas do batido de frutas caseiro.

Jogar um jogo pateta no iPad, enquanto as torradas ficam prontas, fartar-me do jogo, ligar o computador. Limpar o e-mail pessoal das newsletters que não sei bem porque as subscrevi, se raras vezes são abertas. Abrir o Facebook, ver os vídeos que os amigos linkaram, rir e acabar a ver o programa do Conan O’Brien em que o Louis C.K. foi convidado.

Saber que há almoço para preparar, roupa para por a lavar, casa a arrumar e ainda assim, não me preocupar.

Mudar da mesa da cozinha para o sofá, rir um pouco mais, visitar tumblrs como o Better Book Titles, rir e conhecer novos livros, tomar nota, arranjar as unhas preguiçosamente enquanto leio e me sinto verdadeiramente satisfeita. Depois de um par de semanas em que o mal estar físico imperou e afectou o sistema mais querido do corpo – o digestivo –, diria que isto se aproxima de um sábado perfeito.

Thursday, September 19, 2013

O que importa

O que importa é feito de uma matéria que não se vê, não tem etiqueta com preço e pode perder-se num instante.

Ainda assim, é o que importa.

É breve. Acontece rápido.

Tenho tido sorte. Tenho tido coisas importantes na vida.

Muitos não terão.

Sei das minhas dádivas.

Espero apenas não as desiludir.

Sunday, September 15, 2013

Sabes que a tua semana foi uma merda, porque...

Na segunda, passaste mal. Na terça, acabaste o dia a auto-flagelar-te mentalmente pelas dificuldades que te auto-impões e que só servem para te complicar a vida inutilmente. Na quarta, ao jantar, sentias-te uma fracassada. Na quinta, fizeste molho de tomate para o jantar e juntaste malaguetas a mais. Na sexta, já na passagem para sábado, tiveste notícia de que fizeste asneira e reiteraste mentalmente o fracasso que és. No sábado à tarde sentiste-te impotente. À noite, o jantar em família içou o ânimo. No domingo, regressaste a casa e deste por ti a registar a porcaria de semana que tiveste e a descobrir que este blogue teve 114 visualizações só ontem. E chegaste à conclusão que há muita gente que deve ter muito tempo livre ou é distraída, para ter cá vindo parar. E que apesar de distraídas ou de se terem enganado, ter olhos que passem por este estaminé não é a felicidade, mas ajuda.

Saturday, September 14, 2013

Acto de contrição

Da responsabilidade. E, já agora, da responsabilização: importa deixar uma nota mental, que me sirva e que possa ser tomada por quem lhe aprouver: a culpa, no final, de tudo o que acontece é minha. [Vossa, nos vossos casos.] Quer sejam palavras, actos ou omissões, a responsabilidade é minha. Principalmente pelas omissões, pelo que não é dito. Pelo que se cala. Pelo que se retrai. Tudo parte de nós, e como a serpente, que come o seu rabo, símbolo do início e do fim, da continuidade, também nós criamos o que nos acontece. Somos o princípio, a causa e sofremos o fim, a consequência. Criamos a nossa própria continuidade e eu... eu afundar-me-ei na minha própria culpa, pela qual sou inteiramente responsável.

Thursday, September 12, 2013

Frase do Dia #51

Lido num rótulo de uma garrafa de vinho tinto oriundo do Alentejo:

«Porque os bons alentejanos dão sempre mais do que pedem.»

Pessoal, se quiserem uma relação das boas, em que saem sempre a ganhar, arranjem um alentejano. Tinto, preferencialmente.

Wednesday, September 11, 2013

A postcard a day keeps the sadness away #25

Ou uma espécie de «Crónica de Uma Velhice Anunciada» ou «Retrato da Artista Quando Velha». É isto.


Acabaremos a enviar cartas a miúdos em África (ou na Ásia, conforme o gosto) que não conhecemos, mas que achámos por bem apadrinhar. E chorar como uns parvos perante desenhos de miúdos.

Wednesday, September 4, 2013

A postcard a day keeps the sadness away #24

Há dias em que tenho vontade sair à rua e fazer isto:


Tal qual o filme. De chapéu, franjas, branco, mas sem leite. Diz-que afinal é alimento que me faz mal.

Tuesday, September 3, 2013

Sem número, número 18

O Pátio da Eterna Felicidade não é bonito e é pena. Por lá havia passado um par de vezes, até àquele final de tarde em que finalmente me decidi fotografá-lo. Mas o Pátio da Eterna Felicidade não é bonito. É escuro e tem umas pequenas escadas que, descendo, nos conduzem a um labirinto de ruas estreitas que são do mais antigo e sinistro que há na cidade.

Se atravessarmos a rua, do lado oposto ao Pátio da Eterna Felicidade, há uma travessa calcetada decorada com alguns vasos floridos, de onde se consegue ver o que sobra das Ruínas de São Paulo. À noite, da travessa, é possível avistar esse rasgo iluminado que são as ruínas e isso sim, é bonito. É estranho que apenas me tenha apercebido da existência dessa rua, desse rasgo, quando me encontrava no Pátio da Eterna Felicidade. Que é feio, poeirento e com pouca luz.

Ele morava não muito longe do Pátio da Eterna Felicidade. Para lá ir, teria invariavelmente de atravessar o Pátio da Eterna Felicidade. Mas no dia em que o visitei, foi no pátio da sua casa – pela vista do terraço – que pensei que era o Pátio da Felicidade Eterna. Queria fixar aquela visão, levá-la comigo, porque nunca me sentira tão feliz como ali, naquele lugar, naquele presente. Também de lá se viam as ruínas, mas era possível vê-las inteiras, pujantes de luz, belas, apesar dos brutais remendos de betão.


Descendo o olhar para a rua onde se situava o prédio, viam-se umas pequenas casas orientais, raras na cidade. Em todo o tempo que lá estive, poucas vezes me cruzara com essas habitações tradicionais. Não que seja muito difícil encontrá-las, mas o acaso nunca me conduzira a uma. Uma das casas suscitou a minha atenção. Era verde, creio. Ou vermelha. (Aqui a memória torna-se nebulosa.) Estava bem preservada, talvez tivesse sido restaurada, e dela emanavam vozes, histórias de outros tempos, que não prometiam finais felizes, mas continham em si a beleza que só o tempo consegue conferir às recordações. Mesmo às mais tristes.

Pouco antes de partir, vi na Ilha casas semelhantes. Eram um pouco diferentes, exibiam as marcas da idade, mas tinham o ar de quem sabe guardar segredos. Curiosamente, vi-as quando passava nessa rua acompanhada dele. As mais belas imagens da cidade, quis o acaso que as visse na sua companhia. Aquelas que guardo na memória e que receio perder sem que possa fazer algo que contrarie o esquecimento. Tenho medo de esquecer. Não porque tenham sido bons momentos, ou porque a sua companhia fosse a ideal. Não. Na realidade, longe do Pátio da Eterna Felicidade, a realidade impera e a beleza consome-se. Mas no seu pátio, no pátio que foi para mim o da Felicidade Eterna, sem fim, consigo ver o passado com a lucidez da memória. Porque, desde sempre, o tempo, na crueldade da sua passagem, foi adocicando as memórias que guardo desse período.


Sim, ele existe. Não foi coisa que tivesse capacidade de inventar.

Monday, August 19, 2013

A postcard a day keeps the sadness away #23


Se um dia, numa entrevista de emprego ou questionário pateta de Verão [passe a redundância], me perguntarem que personagem fictícia gostaria de ser, responderia o Zio Teo, aquele que, gritando no seu maior ímpeto, berra por uma mulher. Un bisogno più normale, dizia o pai. E é capaz de ter razão.

[Sempre que preciso de me sentir bem, penso em Rimini. Na Rimini da infância de Fellini. Haveria lá sítio melhor para se desejar morar que um filme de Fellini? Se me deixassem, morava em Amarcord. Isso é que era catita a valer.]

Thursday, July 11, 2013

Sem número, número 17

Tanto por resolver e já tão próxima dos 30. Às vezes questiono-me se além dos problemas imediatos e quotidianos, que resultam das vivências que acumulamos, será possível resolver questões mais profundas, as que datam de décadas anteriores a esta e sobre as quais partimos durante anos para agirmos em relação aos outros e a nós próprios. Temo um pouco - sempre fui muito medrosa, não é novidade temer o que quer que seja - não conseguir alterar esses pedregulhos da minha conduta. Mas depois penso no Acordo Ortográfico e ganho algum ânimo: durante quase 22 anos aprendi a escrever de uma forma específica e pratiquei essa ortografia com afinco. Depois de ter sido forçada a recorrer ao Novo Acordo Ortográfico (NAO), fui interiorizando as mudanças nas palavras - físicas apenas, salve-se isso - e, apesar da minha resistência, dou por mim muitas vezes aplicando a nova ortografia. Nunca pensei dizer isto, nem nunca pensei abençoar o NAO, mas hoje, ao reflectir sobre o ego (o conceito do Freud), senti esperança ao pensar no modo como escrevo as palavras que mudaram. E talvez mesmo a forma de agir mais errada que esteja enraizada possa, na verdade, ser alterada. É apenas uma questão de treino. E de erosão - um bonito fenómeno geológico. Além disso, a minha avó sempre disse: «Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura».

Wednesday, July 10, 2013

Frase do Dia #50

Três homens num barco, um fox terrier e tantas coisas que me soam familiares:

«How good one feels when one is full - how satisfied with ourselves and with the world! People who have tried it, tell me that a clear conscience makes you very happy and contented; but a full stomach does the business quite as well, and is cheaper, and more easily obtained.»

Se a minha mãezinha tivesse lido Jerome K. Jerome, tinha percebido mais cedo aquilo que se passava comigo e provavelmente tudo teria sido mais fácil *suspiro*.

Monday, June 10, 2013

Frase do Dia #49

Ida à Feira do Livro, no último dia, desvios e placagens entre barracas de ginginha, farturas e gelados e um livrinho recomendado na barraquinha da Assírio & Alvim, que dizia assim:

«Entretanto as gentes do lugar foram-se pelo mundo fora e lá em cima só ficaram os velhos a ler o tempo olhando para o vale que desce até ao mar.»

E eu fiquei a saber que o Tonino Guerra não só escrevia guiões maravilhosos, como poesia e breves contos encantadores, entre eles, estes incluídos n'O Livro das Igrejas Abandonadas.

Sunday, June 2, 2013

Tuesday, May 28, 2013

Cenas de um dia auspicioso #28

Acordar e tomar a droga que se tomará em jejum até ao dia em que deixar de ser necessário, porque o corpo não precisará mais dela para se sustentar. Há alguns ruídos na casa onde se mora, mas onde se deixará de habitar em breve, independentemente do destino. Alguns amigos queridos enviam mensagens através do telemóvel e fica-se contente. O telefone toca sem identificar o número e é a prima do Brasil que telefona religiosamente mais um ano para desejar um feliz dia de aniversário. Abre-se o e-mail e lojas onde acabámos por deixar a nossa data de nascimento oferecem-nos descontos. Não fazia ideia de que tantas teriam essa informação. Soubera eu antes e tinha planeado as compras e as necessidades de forma mais prática. Abro o Facebook e tenho muitos parabéns que se dirigem a mim. Sinceros todos, creio. [Ou nisso quero acreditar.] Os amigos à distância mandam abraços. Os anos passam, mas há ainda meia dúzia de piadas que permanecem. Logo à noite, às 20.00, a Mãe telefonará. Há quase três décadas, perto da hora do jantar, depois de um dia de trabalho, colocou-me cá fora com a ajuda da enfermeira Mariazinha, no já inexistente serviço de Ginecologia do Hospital da Fundação da Nossa Senhora da Guia, no Avelar. Tudo augura que será um bom dia, mais não seja porque é 28 de maio e faço hoje 28 anos. Os chineses acenariam com as suas cabeças, caso lhes perguntasse o que pensam do assunto, que sim, hoje é um dia auspicioso. Por isso e como não estou a trabalhar, acho que vou mesmo é cortar o cabelo e lavar a roupa. Haja a certeza de que as tesouradas serão certeiras e que as camisolas coloridas não mancharão.

Monday, May 27, 2013

Frase do Dia #47

Depois de um fim-de-semana a afinar a pronúncia alemã, à terceira, que diz que é de vez, a Elfriede na voz d'A Pianista:

«Isso dá segurança e a segurança gera medo perante o que é inseguro. Erika tem receio que tudo fique como está e tem receio que algo se possa vir a alterar.»

Monday, May 13, 2013

A postcard a day keeps the sadness away #22 meets Made in China V


Cliché. Mas só porque acho que, [quase] todos, como eu, que experimentaram o Japão [Ásia], tiveram aquele[s] momento[s] num táxi, de cabeça encostada ao vidro, depois de uma noite num qualquer bar num vigésimo-qualquer-coisa andar, e ouviram, ainda que apenas mentalmente, uma canção dos My Bloody Valentine e pensaram que a vida ainda podia ser algo surpreendentemente maravilhoso.

[Algo que poderá - ou não - ter-se passado numa noite da qual não há fotos, mas em que se usava uma t-shirt às riscas verde escuro e cinzento, com uma écharpe verde e umas calças pretas, em que, depois de uma breve passagem pelo bar do Galaxy Starworld, se terminou a noite a beber umas cervejas japonesas - Asahi - no velhinho Sky 21 sentada a olhar para a Taipa, antes do regresso a casa. E pensando que a vida era tanto mais do que pensava que podia ser.]

Thursday, May 9, 2013

Frase do Dia #46

Esta não vem de livros, embora se tenha passado num lugar onde há muitos. Diz, a certa altura, um indivíduo, querendo elogiar a atitude da pessoa a quem se referia:

«Devíamos todos aplaudir de braços abertos!»

Cá por mim, acho difícil. Mas ainda hei-de tentar. Um dia destes.

Saturday, May 4, 2013

Made in China IV - O regresso do dragão voador [ou apenas eu a tentar endrominar pessoas]

[Espero conseguir um número recorde de visitas nesta espécie de tasco triste que nem álcool oferece, à pala deste título. Mas lembrem-se que, felizmente ou infelizmente, escrevi notícias durante um breve período da minha vida e nem todos os títulos eram/tinham de ser informativos. Bastava que fossem apelativos.]


Ora vamos a isto. Primeiro: não há dragão voador. Mas podia. Porque uma das cenas que deixa qualquer pessoa atordoada e espantada e maravilhada quando chega a Macau é a dança do dragão e/ou do leão, coisa bastante banal para quem é daquelas bandas, mas extraordinária para os palermas dos ocidentais que chegam... erhhh, do Ocidente.

Recordo-me que a primeira «grande» dança do dragão/leão e cerimónia de águinha nas trombas do dito foi numa conferência da FIEALC - Federação Internacional de Estudos da América Latina e Carraíbas [lembro-me bem das «Carraíbas». É daqueles erros maravilhosos de tradução que tanto prazer dá a ver a um português]. E foi no Venetian. Aliás, foi a propósito dessa conferência que fui pela primeira vez ao Venetian. Demorei cerca de 15 minutos - desde a entrada no complexo, atravessando a sala de jogo - a chegar à zona de conferências. Podem perguntar-me o que vestia naquele dia, que me recordo ainda: calças de linho brancas e uma camisa-túnica azul-escura igualmente de linho. Tinha a minha carteira azul clara ao ombro e umas sandálias de couro castanho claro rasas [que ainda hoje uso, ocasionalmente - foram compradas no Brasil em 2005 e são uma categoria!]

Por esta altura, os ninguéns que lêem isto assustam-se: passaram, daqui a nada, 6 anos. A verdade é que, além de possuir uma foto, tirada nesse dia, algures, me recordo bem de ter assinalado a dita dança no primeiro draft do meu artigo - como se aquilo fosse um dos critérios que compõem um acontecimento - e de ter sido ridicularizada por tê-lo feito: coisa mais banal no território não havia [mais tarde haveria de o perceber; que isso e o corte das fitas com uma espécie de pompons é o pão-nosso de cada inauguração].

Aliás, o stress gerado pela cobertura da minha primeira grande conferência foi tão grande que, no ano seguinte, quando acordei de uma anestesia geral que durou mais de quatro horas, achei que estava lá, de novo, no Venetian, a assistir à conferência. E chorei. Oh, se chorei. Porque estava drunfada e acreditava verdadeiramente que tinha voltado atrás no tempo: estava em Macau, tinha voltado para Portugal, mas, sem ninguém me avisar, tinham-me mandado para lá outra vez. Valeu-me o falecido Dr. Moura, que com o seu habitual pragmatismo me perguntou se, porventura, estava no casino. Disse-lhe que sim. E ele, abanando a cabeça e tratando-me como se fosse uma louca, lá me mandou para o recobro. Yep, ele, sim, era um tipo que sabia o que fazia. E eu sinto muitas saudades dele. May he R.I.P. [E não, isto não é uma piada. É genuíno.]

Sunday, April 28, 2013

Frase do Dia #45

O regresso aos livros e porque a Flannery O'Connor é boa com'ó catano:

«Estar vivo tinha-se tornado um hábito tão entranhado nele que nem conseguia conceber qualquer outra condição.» 

Ou então:

«"Teria sido uma boa mulher", disse O Inadaptado, "se tivesse estado lá alguém para a matar em cada minuto da vida dela".»

Retirados dos contos «Um Encontro Tardio Com o Inimigo» e «Um Bom Homem é Difícil de Encontrar», reunidos em Um Bom Homem é Difícil de Encontrar.

Friday, April 26, 2013

Sem número, número 16


Do sentir-se deslocado, fora do sítio, ou da simples ausência de sentido.

Tuesday, April 23, 2013

Sabes que o teu dia é estranho, quando...

...Dás por ti a amaldiçoar os poetas, que nem te deixam sossegada na casa-de-banho, para vires a descobrir que querem falar contigo, porque simplesmente não gostam de acordar cedo. Oh my. -.-

Thursday, April 11, 2013

Sem número, número 15

A melhor descrição do que aconteceu às nossas vidas nos últimos meses, apresentaram-ma hoje: «Fomos abalroados por um camião TIR e estamos agora a apanhar os destroços de há três meses.» Não que esteja convencida de que a minha metáfora, do «ser-se engolido pela xxxx» fosse pior. Mas a força, a violência do impacto, do que realmente aconteceu, é mais bem representada pela ideia do camião TIR. Ó se é.

This is why life sucks

E a minha, particularmente, é uma grande treta. É tipo Benjamin Button: começou animada e com grandes feitos, mas daqui para a frente é uma espécie de descida de ski alpino. Sem malta a bater palmas na linha de chegada. Mas com um cangalheiro. Isso.

Monday, April 8, 2013

Há dias em que sabes que nada faz sentido, porque...

... Terias o maior gosto em tomar um pouco das dores alheias, aliviar o peso que transportam às costas, que não é teu, é certo, mas que te pertence, porque são teus os proprietários das aflições.

Faria o mundo sentido houvesse uma qualquer equação, uma qualquer matemática que permitisse a apropriação de uma quota desse sofrimento, levando-a para longe, afastando-a de quem não a merece. Houvesse algum sentido no mundo e a inocência nunca seria perturbada pela ignomínia de um punhado de filhos da puta. Ou filhas da puta. Essas.

Sunday, March 31, 2013

Sem número, número 14

Não há nada que temer. A verdade é esta. Não há nada a temer. O pior que pode acontecer é morrer. E essa é a única certeza que se carrega.

Fazer planos é inútil. Planear o que quer que seja é ridículo. E se amanhã, por acaso, morrer, será indiferente. Morrer esta noite, amanhã, na quinta-feira, ao fim-de-semana, é indiferente. Havemos de morrer e, quando acontecer, nada do que se fez terá importância. Venha a morte à segunda, no princípio do mês, ou na segunda quinzena de Julho.

Tuesday, March 26, 2013

Sabes que o dia foi indigesto porque...

... O sistema digestivo não te deu descanso. O ácido da tua bílis não é capaz de processar algumas comidas em condições, nem serve para digerir alguns estados de espírito. Resta-te a esperança que a almofada seja acolhedora e traga um dia melhor. Sem dores de barriga.

Thursday, March 21, 2013

Sem número, número 13


queria

poder

voltar

a

caminhar

sem

sapatos.


Friday, March 15, 2013

Sem número, número 12

A preguiça é uma maldição. E não, não me refiro ao animal. As consequências da preguiça hão-de perseguir-nos até ao fim dos nossos dias. O «não me apetece» ainda há-de acabar comigo. O que não deixa de ser poético (ou irónico, consoante a perspectiva), considerando o carinho que sinto pelo Bartleby.

Monday, March 11, 2013

A postcard a day keeps the sadness away #21


Ele há dias, que são manhãs, em que acordo e é isto.

Wednesday, March 6, 2013

Frase do Dia #44

Da necessidade de rever alguns filmes:


«This whole world is wild at heart and weird on top.»*

* Se não sabem de que filme se trata, informem-se!

Tuesday, March 5, 2013

Não sabes o que pensar sobre o teu dia, porque...

... Sentes-te uma espécie de Suíça humana, neutra. Os teus sentidos não tomam partidos, não sabem o que apoiar e refugiam-se no conforto da indecisão, que é dizer neutralidade. Tens uma batida electrónica e uns sintetizadores que, depois das garfadas de bolo devoradas, te embalam num compasso lento e relembram-te que o saldo dos últimos meses também é neutro. Branco como as paredes de um hospital.

Thursday, February 28, 2013

Frase do Dia #43

Afinal o João Paulo estava errado. Quem a sabe toda é o Bukowski:

«O inferno somos nós que o criamos.»

(A prova de que tudo que inclui Pulp, filmes, bandas e livros, é bom.)

Sunday, February 17, 2013

Sabes que algo não está bem contigo, quando...

... é sábado, é de noite, já jantaste e, não tendo nenhum filme não-deprimente em casa para veres, dás por ti a ponderar trabalhar. Nada de mais estimulante se te afigura em mente para fazer, já que não tens sono.

Thursday, February 14, 2013

Sem número, número 11

quando a vida se tornou tão pesada?

quilos de tarefas a cumprir.

coisas que nos pedem para fazer.

responsabilidades a assumir.

queria um dia passado na imobilidade.

embrulhada em mantas e cobertores.

só a cabeça de fora.

como um caracol.

viver também com uma carapaça.

para que pudesse deslocar-me ao meu ritmo.

e, com uma casa às costas,

viver sem o peso do que me é imposto.

[...]

sou um castelo de cartas.

sem firmeza.

desmorono-me ao mais leve sopro.

Monday, February 4, 2013

Sabes que no teu dia só se aproveitou uma coisa porque...

... És croma. No fundo é isso. És uma grandessíssima croma. Coleccionas factos, nomes, números, informações inúteis, que mal servem para quizes e jogos de tabuleiro. Enches a cabeça com essas coisas e crias um vazio à tua volta. És o negativo do cavaleiro da armadura branca. Em teu redor não há nada e cá dentro as coisas atafulham-se, rebentam as juntas de metal, porque não há mais espaço. Mas tu fazes força, empurras um pouco tudo o que já lá está, para que caiba mais alguma coisa.

Nos teus actos involuntários de cromice, nesse dia compraste um livro, porque a autora, que tanto prazer te deu escutar, falou de um conto que te intrigou e despertou a atenção. Aliás, apreciaste todo o seu discurso, a sua coerência e lucidez. E fez-te reflectir. O que é bom, porque não é todos os dias que ouves pessoas dizerem coisas dignas de permanecerem na cabecinha por mais que dois segundos. É que isso é uma coisa rara, nos dias que correm.

Friday, February 1, 2013

Sabes que o teu dia foi merdoso do início ao fim porque...

... Acordaste mal, depois de uma noite agitada por negros pesadelos, com dores no pescoço. Saíste de casa com a sensação de que ainda estavas a dormir e mecanicamente cumpriste o ritual de deslocação para o escritório.

Mal o dia se inicia, uma tempestade desaba sobre a tua cabeça e ficas zonza de ansiedade. Continuas, tentas empurrar as horas do dia até que chegue o jantar e lá consegues, a custo, porque te sentes exausta.

Quando chegas a casa, estoirada, depois do jantar, e te diriges à cozinha para pegar numa caneca, partes um copo e entornas o recipiente gorduroso em que entretanto pegaste. O líquido alaranjado suja toda a bancada e vês-te obrigada a lavar tudo mais a louça que alguém deixou no lava-louças.

Ligas o computador para limpar spam de e-mails e tentar adiantar pequenas tarefas e dás conta que algo te escapou e, mais uma vez, falhaste. É quase meia-noite, o dia está quase a acabar e percebes que há dias que são mesmo merdosos, de uma ponta à outra, e não há nada que os salve.

Talvez só mesmo uns copos de uma bebida bem forte.

Monday, January 28, 2013

Sabes que o teu dia soube a melancolia, porque...

... Depois de um dia inteiro a ouvir falar de livros infantis e quem os faz e quem os cria ou transpõe para formato digital, sais para a rua com a «Ceremony» - versão New Order - nos ouvidos. Anoiteceu entretanto e, ao percorreres as ruas movimentadas em direcção à estação de metro ocorre-te que, ao longo desse dia, de todas as pessoas - adultas, claro - que ouviste falar, só uma questionou uma criança sobre o que esta pensava sobre tablets e livros impressos. E deste por ti a recordar esses tempos mágicos em que descobriste que o mundo, através das páginas dos livros, podia ser infinito.

Friday, January 25, 2013

Sabes que o teu dia foi mau, mas podia ter sido ainda pior porque...

... Passaste o dia numa prisão mental ao nível da Inquisição Espanhola - e não, não me refiro à versão Monty Python, I wish -, com nós no cérebro que impediam que pensasses com clareza ou sequer raciocinar. Sentiste as vísceras revirar - e não, não foi de enjoo pelo iogurte estragado devorado no dia anterior - vomitaste lágrimas e apeteceu-te apenas mantas e um cobertor na cabeça.

Ofereceram-te um chá de tília - ó Deus, no momento certo, obrigada pelas pessoas certas no momento certo, com a ideia certa - bebeste-o bem quente, tragaste um comprimido para  matar a dor de cabeça que te queria matar a ti, acertaste as ideias e trabalhaste.

Saíste do trabalho a tempo, antes da chuva engrossar, ouviste o Rufus (e não, não era o Gato Rufus, de quem também sentes saudades, embora não tantas como do Gato Nico), entraste no metro, leste o livrinho que estás a ler e de que tanto gostas e, quando ias trocar de linha, cruzas-te com um amigo que já não vias há um ano, pelo menos. Uma breve conversa e quando entras na carruagem sorris e pensas que a puta da ironia se ri de ti. Mas hoje ris com ela.

Chegas a casa, que se encontra na paz do senhor, cozinhas o jantar, arrumas as malas, pões as gotas nos olhos e sentas-te para trabalhar mais um bocado. Ao trabalhares deparas-te com uma tirada que te faz rir sozinha mesmo depois de já teres fechado todos os documentos, só de pensares nela. E dás por ti a pensar que realmente ele há dias surpreendentes.

Thursday, January 24, 2013

Frase do Dia #42

Provavelmente ninguém reparou ainda, porque ninguém lê o que aqui se «bota»: são só pessoas que têm a infelicidade de cá vir parar nem sabem bem como. De qualquer modo, não é meu hábito repetir autores e/ou livros. Porém, porque havia duas ou três coisinhas que aproveitei d'A Pianista, eis a segunda delas:

«A reciprocidade no amor é afinal caso excepcional, na maior parte das vezes é só um a amar e o outro está é ocupado a fugir dele a sete pés.»

Elfriede Jelinek: a constatar o óbvio desde 1983 (ou seja, desde que o livro foi publicado pela primeira vez).

Tuesday, January 22, 2013

Frase do Dia #41

Do medo, porque nunca é demais repetir:

«I must not fear. Fear is the mind-killer. Fear is the little-death that brings total obliteration. I will face my fear. I will permit it to pass over me and through me. And when it has gone past I will turn the inner eye to see its path. Where the fear has gone there will be nothing. Only I will remain.»

E não me aventurarei por mais livros da série Dune, de Frank Herbert.

Monday, January 21, 2013

Cenas e coisas que tais aleatórias #1

No consultório da médica endocrinologista, que consultou para esclarecer a questão dos valores anormais que surgiu nos resultados dos exames sanguíneos mais recentes:

Médica: «Bom, então o que a traz por cá?»
Ela: «Eh, doutora, nos últimos exames que fiz, estes valores aqui  (aponta) surgem muito abaixo do que é considerado normal e queria saber o que significa...»
Médica: (ainda sem olhar para a ficha de paciente) «Hum, pois... você veio cá da última vez por causa do seu problema... hum... você tem um problema que provoca alopécia, não é?»
Ela: (confusa) «Não... vim cá por causa da tiróide...»
Médica: «Ahhhh, é verdade, sim, já me lembro. Sabe, é que vi a sua franja tão perfeita, tão direita, que pensei que usasse peruca!»
Ela: «...»

Sunday, January 20, 2013

Frase do Dia #40

Dos bons conselhos:

«Jump out of bed as soon as you hear the alarm clock!! You may also find it usefull spending five minutes each morning saying to yourself: "Every day in every way I am getting better and better." Perhaps it is a good ideia to start a new day with the right frame of mind.»

Não fui eu que disse. Isto encontrei-o já escrito num pequeno booklet que vinha dentro do Kid A, dos Radiohead, algures no início da década dos 00. Mas escusado será dizer que (ainda) não levei isto muito à letra.

Wednesday, January 16, 2013

Sabes que o teu dia podia ter sido completamente merdoso mas não foi porque...

... Houve greve de metro, mas ficaste em casa. Trabalhaste no quentinho de uma manta, apesar de teres dores horríveis de barriga. E, embora o metro estivesse a abarrotar quando entraste, conseguiste lugar para te sentar e ficar a ler o livro delicioso que estás a adorar.

No escritório, tiveste uma pilha de coisas para fazer, por isso não tiveste grande espaço para pensar em coisas tristes que sabes que ocorrem com quem prezas, mas em relação às quais não podes fazer muito.

Ao regressar a casa, quando meditavas sobre o jantar, ao subir as escadas da estação de metro, a caminho de casa e pensavas que realmente ele há dias em que só apetece ter a cabeça num buraco, qual avestruz, eis que chegas a casa e uma das tuas roomies te pede que lhe expliques como confeccionas um prato. E eis que o dia se anima um pouco: algo útil e que te dá prazer fazer surge inesperadamente e ficas feliz, porque tens alguém para quem cozinhar.

É a tal coisa das simple things.

Friday, January 11, 2013

Sabes que o teu dia foi merdoso porque...

... Tens de ir embora à pressa do trabalho, esqueces-te do guarda-chuva, sais do metro e apanhas uma molha descomunal, porque o céu abriu comportas no momento que saiste das entranhas da terra.

Não sendo suficiente, pegas no carro mais tarde, e, chovendo bastante e encontrando-se os pneus a necessitarem de ser trocados, vais conduzindo devagar, sempre atenta aos veículos da frente, que insistem em caminhar a passo de caracol e apanhar todos os semáforos vermelhos.

Ligas o rádio, para tentar distrair-te - porque estás mesmo deprimida - e passar o tempo que perdes à espera que os sinais abram. Mal a música começa a tocar, reconheces que é Radiohead, do álbum OK Computer. A letra surge-te como por automatismo - o que te irrita -, mas esperas que pare de tocar e seja substituída por outra coisa. Quando ainda tens colado na cara um esgar semi-irónico, começa a tocar outra (!!!) música de Radiohead. Aí, solta-se um sonoro «foda-se». Sai tão alto que o condutor que está na faixa do lado, à espera que o sinal abra, olha na tua direcção e vê-te esbracejar. Apetece-te mandá-lo à merda, mas está verde e avanças.

Já no regresso a casa, vais ao Burger King - é o sítio que tem uma fila menor e o que tu queres é ir para casa, meter-te debaixo das mantas e praguejar. Pedes para levar e dizes que queres aros de cebola. O rapaz acena que sim, que anotou. Recebes a tua comida, pagas e vens embora. Chegas a casa, abres a merda do saco e descobres que te mandou batatas em vez da cebola. Nessa altura estás tão cansada que te borrifas para essa merda toda e comes consoladamente a porcaria do hamburguer e as batatas já frias.

E só pensas no dia merdoso que foi.

Cenas da vida Erasmus #5

Na aula de Comunicazione Politica - que elas frequentam - depois de assinada e entregue a folha de presença:

Professor: «Já não é a primeira vez que isto acontece, por isso, o indivíduo que escreveu à frente do nome de uma jovem estudante de Erasmus 'Sei belíssima!', que ganhe coragem para lhe dizer e não volte a rabiscar as folhas de presença.»

Thursday, January 10, 2013

Cenas da vida Erasmus #4

Os três juntam-se em casa delas para jantar. No final, jogam à bisca, bebem e conversam sobre as dificuldades de aprendizagem da língua portuguesa do ponto de vista de um não nativo:

Ela: «Sabes que o plural, em português, se faz de diferentes formas.»
Ele: «Ai sim? Como?»
Ela: «Ora, tu, por exemplo, não podes dizer 'os alemãos'. Dizes 'os alemões'.»
A outra: «...»

Wednesday, January 9, 2013

Cenas da vida Erasmus #3

Grupos de pessoas munidos de garrafas de cerveja encontram-se espalhados pela praça e pela escadaria em frente à Chiesa de Santa Croce. Eles também lá estão, sentados nos degraus do edifício:

Ele: (tenta abrir desesperadamente uma garrafa de cerveja)
Ela: «Se quiseres, posso pedir a alguém daquele grupo de espanhóis que abriu as nossas garrafas para abrir a tua.»
Ele: «Não. Tenho de aprender a abri-las sozinho! Vou conseguir.»
Ela: «Tens a certeza?»
Ele: «SIM!»
A outra: (dirigindo-se a Ela) «Isso é tão à homem.»

(Meia hora mais tarde, depois de muitas tentativas frustradas)

Ele: (pára de tentar e fica calado a olhar para a garrafa)
Ela: «Tens a certeza que queres beber isso?»
Ele: «Vai pedir ao tipo!»

Tuesday, January 8, 2013

Cenas da vida Erasmus #2

Elas conversam com ele a propósito de uma anedota sobre o tipo de sal culinário usado na Polónia [aparentemente, só se utiliza sal fino para temperar comida], de onde ele é oriundo:

Ela: (explica) «Nós usamos pedrinhas de sal na comida.»
Ele: «Pedras de sal? Na comida?»
Ela: «Sim, no churrasco.»
Ele: «E isso não dói?»
Ela: «...»

Monday, January 7, 2013

Cenas da vida Erasmus #1

Em Verona, numa noite de Outubro, próximas do centro da cidade, quase a chegar à Piazza de l'Erbe, cruzam-se com um grupo de homens que está parado no meio da rua olhando uma ponte que liga dois edifícios. Um dos homens aborda-as:

Ele: «Desculpem, esta é a Ponte dei Suspiri?»
A outra: «Não sei, somos turistas.»
Ela: (de sobrolho franzido) «Olhe, não sei se é assim que esta se chama, mas a única Ponte dei Suspiri que conheço é em Veneza...»
Ele: (visivelmente supreendido) «Mas, onde estamos?»
Elas: «Verona...»
Ele: (meio desconfiado) «Não é Veneza?»
Elas: «Não...»

Sunday, January 6, 2013

Frase do Dia #39

D'«O perigo:

Nada é tão perigoso como teres cumprido todos os teus deveres do dia e ainda ser manhã, teres cumprido todos os teus deveres na vida e ainda não estares morto.»

É uma das Breves Notas Sobre o Medo, de Gonçalo M. Tavares.

Saturday, January 5, 2013

Frase do Dia #38

Perdido nas profundezas de um caderno cujos rabiscos remontam a Abril de 2005, encontrei este pedaço de texto:

«Muros altos, lisos, cuidadosamente polidos à direita e à esquerda, nem uma travessa ou passagem, nem um nicho ou reentrância, só este caminho estreito que tem de atravessar até chegar ao outro lado. Onde, ainda não sabe, espera-a uma passagem invernosa que se estende pelas lonjuras, uma paisagem em que não se ergue um único castelo que a salve e ao qual não conduz um único caminho.»

E foi isto que retive da leitura de A Pianista, da Prémio Nobel de Literatura, Elfriede Jelinek.

Thursday, January 3, 2013

Lista #9: Livros lidos desde o início até metade do ano em que nos encontrávamos antes [Take 2]

O ano passou já, mas posso continuar a listar os livrinhos que fui lendo ao longo do ano passado ao ritmo que bem me apetecer.

O Crocodilo, Fiódor Dostoiévski: O Crocodilo é um livrinho pequenininho que relata a história de um senhor que, um dia, em Moscovo, cai na boca de um crocodilo - ninguém adivinharia - e por lá fica, mandando uns bitaites sobre o mundo e coisas assim. É hilariante. Nunca pensei que o o amigo Fiódor fosse capaz de tanto humor.

Alien, O Oitavo Passageiro, Alan Dean Forster: como tenho uma história pessoal conflituosa com os filmes - que não vi na totalidade, ainda - achei que ler o filme era capaz de ser uma boa ideia. E além disso, o livro por lá andava perdido numa estante, achei melhor ver o que tinha dentro.

Vinte e Seis e Mais Uma, Máximo Gorki: são duas histórias e não são feitas para rir. É muito triste, na verdade. Mas o homem escrevia que era uma categoria, ó sim.

No Rasto do Corsário Coja Acém, Fernão Mendes Pinto: acho que em 2008, que foi quando comprei o livro, comecei logo a lê-lo [aliás, lembro-me de estar na sala de espera do gabinete do dentista a tentar concentrar-me na leitura apesar do barulho daquelas coisas horrendas que nos metem na boca]. Mas só este ano voltei a lê-lo desde o início até ao fim. Desgraçado Fernão, que tanta desventura sofreu pela Ásia. [Hum... isto recorda-me alguém...]

O Pátio Maldito, Ivo Andríc: depois de lê-lo, coisa que me agradou bastante, apesar de ter sido lido nas 5/6 horas em que estive à espera de ser atendida no Centro de Emprego, achei curioso o modo como o senhor parece abordar/recriar personagens que são moldadas pelos espaços/lugares onde estão e/ou vivem. Mas deve ser natural, dada a nacionalidade do senhor e o período histórico em que viveu. E sim, gosto muito.

Wednesday, January 2, 2013

Cenas da vida no campo #2

Aos 27 anos de idade ouviu, pela primeira vez, a mãe falar-lhe de álcool e sobre como não deve beber em demasia. Aos 27. Se tivesse sido aos 17 - isso -, antes de entrar na faculdade e perceber que, apesar de não gostar de cerveja, a cerveja não era má, ainda entendia. Foi aos 27, depois de ter aprendido a amar a cerveja, a boa, a brune, as Chimay, as Duvel, as Delirium Nocturnum e a perceber que Franziskaner não é «a sua praia».

Ainda antes dos 27, percebeu também a relação qualidade-preço dos vinhos da Península de Setúbal, embora os alentejanos e os dourienses - tintos, sempre - sejam, sem dúvida, muito bons. Aprendeu, entretanto, o sabor forte da Touriga Nacional e a suavidade da Trincadeira, embora quando se compare com Cabernet-Sauvignon esta tenha um travo mais intenso.

Depois da vindima, percebeu que a Fernão Pires é a melhor casta de todas e o quanto a água-pé pode ser refrescante pela jovem idade. Já aos 27 aprendeu a distinguir os diferentes verdes e a reconhecer Loureiro e Trajadura e, naturalmente, a apreciar a leveza do Alvarinho. Tudo isto aconteceu muito antes de tal conversa e através de anos de experiência. Daí que ainda me espante da ocorrência do sucedido. Mas já diziam os outros: «Nobody expects the Spanish Inquisition

[Para não mencionar as repetidas incursões a caves de vinho do Porto, nomeadamente, Ferreira, Ramos Pinto, Calém e Sandeman, assim como as visitas a adegas e quintas, como a de Monção, Reguengos de Melgaço e Monte dos Perdigões.]