Ainda a propósito de Roma, Cidade Eterna, desta vez por Luigi Pirandello, em O Falecido Mattia Pascal (ed. Cavalo de Ferro).
«- Porque vive em Roma, senhor Meis?
- Porque gosto de cá viver...
- E, no entanto, é uma cidade triste - observou ele, abanando a cabeça. - Muita gente se admira com o facto de nenhum empreendimento aqui resultar, de nenhuma ideia criativa ganhar raízes. Mas essas pessoas maravilham-se porque não querem reconhecer que Roma está morta.
- Roma também está morta?! - exclamei, consternado.
- Há muito tempo, senhor Meis! E é vão, acredite, todo e qualquer esforço para a fazer reviver. Fechada no sonho do seu passado majestoso, já não quer saber desta vida mesquinha que se obstina a formigar à sua volta. Quando uma cidade teve uma vida como Roma, com características tão especiais, não pode tornar-se uma cidade moderna, ou seja, uma cidade como outra qualquer. Roma jaz, com o seu grande coração despedaçado, da parte de trás do Campidoglio. Serão porventura de Roma estas casas novas? Olhe, senhor Meis. A minha filha Adriana falou-me da pia de água benta que estava no seu quarto, lembra-se? A Adriana tirou-a do seu quarto, mas no outro dia caiu-lhe das mãos e quebrou-se. Sobrou apenas a conchinha, que está agora no meu quarto em cima da minha escrivaninha, e que eu destinei ao uso que o senhor inicialmente, de maneira distraída, lhe deu. Pois bem, senhor Meis, o destino de Roma é semelhante. Os papas fizeram dela - a seu modo, claro está - uma pia de água benta; nós italianos fizemos dela - a nosso modo - um cinzeiro. Viemos de todos os lados do país para sacudir para dentro dela as cinzas do nosso charuto, que é, de resto, o símbolo da frivolidade desta nossa vida misérrima e do amargo e venenoso prazer que ela nos dá.»
Sunday, June 5, 2011
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment