Em Frankfurt, sentimos o céu esmagar-nos, descendo sobre as nossas cabeças, pressionando-nos contra o chão.
Era o final do mês de Julho, início de Agosto. Não chovia ainda, mas o céu erguia-se cinzento na ponta dos arranha-céus. Era um mês atípico na cidade, mas ainda assim, o bulício rotineiro do seu dia-a-dia era perceptível. Atravessando as largas avenidas que abriam caminho entre os altos edifícios, alguns símbolos germânicos pareciam fazer sentido, como se de um prolongamento da cidade se tratassem: o tom escuro dos fatos Hugo Boss, o preto dos Mercedes-Benz e dos BMW que povoavam a cinzenta urbe. Era uma cidade ventosa, fria, onde o céu era um espelho dos monumentais prédios de vidro e aço.
Os arranha-céus roçavam os céus forrados de nuvens escuras e o vento varria as avenidas, anunciando a tempestade. Subitamente sentiram algumas gotas cair e, ainda em silêncio, apressaram o passo em direcção ao carro.
Ela não sabia bem porque ali estava. «Naquela direcção?». «Sim, vamos», respondia ele nos seus diálogos que lentamente se estavam a transformar em monólogos. Ela já não tinha mais nada para lhe dizer. Mas talvez ele também não estivesse interessado.
Ela inquietava-se por não saber explicar porque estava ali. «Pelo menos aqui já não chove», pensava. «Pelo menos já não está tanto calor», dizia si mesma, como que procurando um qualquer motivo de consolação que a impedisse de sentir o peso que carregava dentro de si. Mas não estava a resultar.
«Como ficámos assim?», questionava-se. Como deixou se deixou chegar àquele ponto? Quando se tinham perdido um do outro?» «Um capricho», pensaria anos mais tarde. «Um capricho pelo qual me deixei embalar». A culpa não era exclusivamente dele, porque ela o deixara levar a sua dignidade. Por isso sentia o peso da culpa. E da vergonha. A dignidade era o que mais valorizava e deixara-o arrasá-la, porque julgava que o amava. Mas não sentia amor.
A situação era ridícula e sabia-o. Perdera tudo em poucas horas. Consolava-a apenas saber que, na realidade, a responsabilidade pertencia a ambos. Sabia também que quem ama, perdoa. E ele não lhe perdoara o momento em que perdera a calma e se vira despojada de toda a racionalidade.
Era complicado. Fora tudo muito confuso. Amor e raiva misturavam-se. Mas, como sempre, não adiantava pensar nisso. «Já passou», dizia, procurando convencer-se. Talvez nunca tenha compreendido o que aconteceu naquela cidade cinzenta, quando ambos passeavam de rostos pesados. Não eram mais amantes, porque o amor se desvanecera. Não eram namorados, porque o afecto desaparecera. Restava somente o conforto da realidade, de que ninguém agiu mal, que ambos se magoaram. Mas era assim que devia ter sido. Era suposto ela sofrer. E era suposto ele crescer.
[O bonito céu de Francoforte em pleno Verão.]
[Publicado originalmente a 10 de Junho de 2008.]