Tuesday, December 8, 2009

Lista #1: Coisas que descobri gostar no dia 7 de Dezembro de 2009

Inspirada por Umberto Eco, que comissiona uma exposição patente no magnífico Louvre de Paris (e creio que não existe outro), que tem como mote as listas, decidi também eu, magnífica produtora de culturas parvas, produzir o meu próprio rol cultural.

Como a ideia me surgiu no dia 7 de Dezembro de 2009, a 17 dias do Natal e a 24 do final do ano, segunda-feira, dia de trabalho, ioga e aulas (cronologicamente ordenados), dia do início daquela reunião que ficará para a História, da Cimeira de Copenhaga, achei que era giro produzir a minha primeira lista neste dia.

E assim, ora cá vai:

Lista #1 - Coisas que descobri gostar no dia 7 de Dezembro de 2009

1 - Ser a primeira a acordar, enquanto todos dormem.
2 - Sentir água quente jorrar nas costas.
3 - Que o céu esteja cinzento e chova.
4 - Sentir o calor do secador na cabeça.
5 - Caminhar de ténis.
6 - Dos minutos que antecedem a chegada do metro (antes de ir para o trabalho).
7 - Comprar o jornal e encontrar algo de interessante para ler.
8 - Concentrar-me no trabalho.
9 - Organizar a agenda.
10 - Ver os pés em cima da cabeça.
11 - Chá verde e menta acompanhado de croissant com queijo.
12 - Apresentações em Power Point com pouco texto e sem fundos mirabolantes.
13 - Truques de ilusionismo.
14 - Silêncio.
15 - Dormir, sentindo cansaço no corpo.

Sunday, November 15, 2009

Abstracção


Quero povoar a minha escrita com imagens que não existem ainda.

(Feliz Aniversário, L.)

Thursday, October 29, 2009

Previsões da Sarina (para o último fim-de-semana de Outubro, quiçá os primeiros dias de Novembro)

O Cadeirão de Sarina, de onde saem todas as suas magníficas previsões

Neste fim-de-semana, o comboio sairá do Oriente cruzando as lezírias do Oeste em direcção a Pombal. Esta conjuntura terá influência sobre os dois dias, conduzindo a tardes animadas no Centro Norte de Portugal. As noites serão frias e recomenda-se que se vistam agasalhos de modo a evitar os surtos de Gripe A. Se assim fizer, terá bons resultados e uma ida ao cinema será uma boa forma de evitar o ar livre e o frio que se fará sentir. Aposte em companhias agradáveis, de amigos que já não vê há algum tempo e verá que se sentirá mais animada. Esta será também uma boa altura para trabalhar, pois os resultados serão frutuosos. Procure rodear-se da família, pois os seus familiares dar-lhe-ão todo o apoio que necessita.

Boa altura para uma mudança de visual. Aproveite para uma ida ao cabeleireiro. Quem sabe, uma nova franja irá aumentar a sua auto-estima. Procure conter as suas despesas. Esta não é uma altura para esbanjar o seu dinheiro. É final do mês, caramba!

No final de domingo, será altura para despedidas. Uma nova etapa e uma nova semana terão início. Recarregue as suas energias, pois dias de trabalho se avizinham e aproximam-se novos conhecimentos.

Sunday, October 18, 2009

Algures entre o Oriente e o Ocidente, a meio está Roma

Não sou fã tremenda de Roma. A Roma que visitei não é igual à Roma de Fellini. E por isso, Roma não me diz muito. Porque não é a Roma de Fellini.

A Roma de Fellini é a Cidade Eterna, cidade das ilusões, onde os seus habitantes se entregam à busca pelos prazeres efémeros, da comida e do sexo. Talvez porque saibam que Roma é eterna e que quando morrerem, ela continuará a existir. Porque Roma basta-se a si própria. A sua herança, a sua memória basta-lhe. E, ainda que decadente, ou suja, ou somente velha, Roma continuará a viver, a respirar, mesmo quando todos deixarmos de ser.

Com um grupo de motociclistas, percorremos Roma. Partindo de Castel Sant’Angelo, passando por Piazza Navona, Piazza di Spagna, até ao Coliseu, Roma surge aos nossos olhos, a grande velocidade, num belíssimo jogo de luzes e sombras. Esta será, porventura, a Roma que todos conhecemos. Mas é, acima de tudo, a Roma de Fellini.

Thursday, October 8, 2009

Made in China III - O que Camões e eu temos em comum


Jardim de São Francisco, nos primórdios - e sempre! - da minha estadia em Macau. Eu morava aqui, nesta rua, mesmo ao lado do Jardim de S. Francisco, assim para os lados do Clube Militar e do Grand Lisboa, estão a ver? Sim, isso, perto da saída da famosa Curva do Lisboa. Por aí. Havia uma passagem subterrânea que ligava à Rua Dr. Rodrigo Rodrigues, já mesmo a pensar no Grande Prémio de Macau, não era? Para quando fecham as ruas e se torna necessário um meio alternativo de as atravessar, e, como a galinha, passar para o outro lado.

O Jardim era ali perto de casa. Se eu viesse pelo percurso alternativo - havia quem dissesse que, nesse sentido, cortando à esquina do BNU, era mais rápido chegar a casa. Mas esse não era o meu percurso dilecto - teria que subir as escadas do Jardim, cruzando-o, para chegar a casa.

Minto. De início frequentava bastante este percurso. Era o mais rápido para o Tribunal Judicial de Base. E como passava muito tempo no TJB, era este o trajecto mais usado, principalmente naqueles dias em que escapava ao almoço para dormir uma soneca, pois que a necessidade de dormir era mais forte que a de comer.

Recordo-me que até era agradável por lá passar. O Jardim pela hora de almoço era engraçado. Podia-se ver por lá, brincando, os pequenitos que frequentavam a escola mais próxima. Havia um pequeno parque infantil, com baloiços, onde também me sentei algumas noites, depois de findo o trabalho. Era um local aprazível e seguro, pouco frequentado por noctívagos, nessas horas perdidas.

Quer dizer, é uma afirmação relativa. Pois cerca das 5h50, 6h, por lá me cruzei em certas ocasiões com os mais velhinhos. Eles já se tinham levantado da cama e iam para o seu tai-chi matinal. Eu ia para casa, para o meu leito, dormir, pois a hora tardia a isso obrigava.

Mas não só eu por lá havia passado. Outro português, ilustre, diz-se que também lá teria ido, noutros tempos. Um pouco antes. Aquele que escreveu a nossa história em poema, um tal de Luís. De Camões. E no Jardim de São Francisco diz ele:

Nesse poiso
De suave tristeza me acudiam
À memória as lembranças do passado,
Magoadas co'as ideias do presente,
De envolta com os receios do futuro
E acaso de esperança verdejada
Leve folha dos ventos assoprada

Bonito, não?

Sunday, October 4, 2009

Good things come from Iceland

"Poucas coisas são tão falíveis e inconstantes como o coração que ama, e no entanto é o único lugar no mundo onde existe o sentimento de partilha."

in Gente Independente

Halldór Laxness

Bjartursdóttir ou Mera Introdução à Obstinação Humana

Halldór Laxness

Halldór Laxness, escritor islandês, recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1955. Da interminável lista de Prémios Nobel da Literatura, o seu nome é mais um dos ilustres desconhecidos que a integra. Em Portugal, a Cavalo de Ferro publicou em 2007 um dos seus romances, Gente Independente. O único em português dos 51 que escreveu.

Porque me desviei de Macau para os livros? Simples: este é um dos meus eternos prazeres e este é um dos autores que mais me marcou. Porque não falo islandês, é grande motivo de revolta o facto de não conseguir encontrar mais livros de Laxness.

Devorei Gente Independente e fiquei extasiada. É belo o enquadramento mágico da história de Bjartur, um homem que luta pela sua independência. Determinado e obstinado, Bjartur quer mostrar a todos que é capaz de ser auto-suficiente. Que pode ser independente. Mas na sua obstinada e cega luta por essa independência financeira, rui a sua família e acaba por ruir, posteriormente, a sua própria vida como ele a conhece.

Bjartur luta. Luta desenfreadamente contra tudo e todos. Luta contra as superstições, contra os fantasmas, contra a dependência financeira, para mostrar que ele, Bjartur, é um homem independente. Um verdadeiro islandês, numa época em que o país, muito pobre, se encontrava sob o domínio dinamarquês.

Embora o final seja a ruína de Bjartur, após centenas de páginas de uma luta estóica, e, por vezes, a sua obstinação roce o ridículo, seremos insensíveis se não nos deixarmos tocar por este homem duro, que não confia em ninguém. Apenas na sua cadela, Títla. Esta é uma história de humanidade de um homem, que é apenas isso, humano. E daí a sua grandeza.

Bjartur não é herói, nem pretende ser. Mas é inspirador. E esta não é uma história feliz. Mas, seria ingénuo quem esperasse que o fosse. O mais que podemos é olhar para Bjartur e, talvez, aprender. E basta. Não podemos pedir mais.

Talvez haja uma lógica natural, que me faz trazer este livro. Na realidade, Gente Independente acompanhou a minha estadia em Macau. Antes de dormir, procurava sempre avançar um pouco mais. Acrescentar mais algumas linhas à história de Bjartur. Talvez na esperança que ele conseguisse alcançar a sua independência. Ou talvez mesmo para desvendar o sentido da vida. Mas o sentido da vida não estava lá. Era apenas mais uma pista para lá chegar. A juntar a todas as outras que se vão coleccionando. Resta-me agora acalentar a esperança de um dia conseguir juntar todas as peças e lá chegar. À Islândia, sim. E ao sentido da vida, também. Quem sabe?

Thursday, October 1, 2009

Made in China II - Come on home!



Depois de um dia a trabalhar, o que é que se faz, normalmente? Bom, reconheço que há várias opções disponíveis... Pois bem, quando os meus dias de trabalho - ou deveria dizer "noites de trabalho"? - chegavam ao fim, rumava a casa. Isto, na maior parte das vezes. Outras, esporadicamente, já após alguns meses de Macau, dava um saltinho ali ao Grand Lisboa, que surge proeminente nesta foto, tirada ao lado da entrada do pátio do prédio onde eu morava.

Quando lá ia, se não era de dia, a trabalho - o que nem era muito comum, diga-se - era de noite, depois de dar por findas as minhas tarefas no jornal. Não ia jogar, como até podem supor. Ia comer sanduíches ou cachorros, servidos como se se tratassem de haute cuisine (e aqui vos deixo o link, para que conheçam o Crystal Lounge & Deli).

Não ia sempre, claro. A carteira não mo permitia. Aquilo não era uma "sandes" qualquer! Eram sandes "assinadas"! Ah, como percebemos o valor do que tínhamos, quando não dispomos mais dele! Eu gostava daquelas sanduíches! Juro! E depois tinham o valor simbólico da recompensa depois de um duro dia de trabalho. O que as tornava ainda mais especiais.

É curioso. Ao escrever sobre estas sanduíches, consigo sentir ainda o sabor das batatas fritas com ondinhas que costumavam acompanhar o cachorro. E recordo-me de uma noite em que, sentados numa mesinha junto à "varanda" do lounge, com vista para as mesas de jogo do casino, lá em baixo, escutávamos os urros de contentamento de algum senhor chinês que devia estar a ter uma lucky night. E ali ficávamos nós, a observar o comportamento das pessoas que jogavam, e dos croupiers, enquanto ruminávamos a nossa sanduíche, ou fazíamos vozes, imaginando o que pensavam as pessoas que jogavam.

E é estranho agora lembrar como era, pois parece irreal à luz da realidade do presente.

Made in China I - Just another day in the office


Tem início a série de posts Made in China. Baseado no nome do álbum de fotos criado durante a estadia na Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China - ou, para os que sabem como funciona, RAEM, ou, "o" território, ou, apenas e simplesmente, Macau -, não pretendo, contudo, com esta série, nada de especial, nem espero que cumpra uma função especial, que vá mudar a vossa vida. A ideia é apenas partilhar algumas das imagens que trouxe comigo, mostrar-vos uns pedacinhos do território, pois, no que respeita a esta experiência - uma espécie de Fear and Loathing in Macao - é difícil explicar o que aconteceu, o que foi, e o que é Macau. Só vos posso dizer: vão lá e depois contem-me como foi.

Para vos iniciar no que seria uma ida normal para o trabalho, mostro-vos o início do percurso. Sem análise semiótica da imagem, vou directa ao assunto. Era descendo estes lances de escadas, que ocupam metade da rua, que me dirigia à redacção do JTM. Aqui não se vê, mas de ambos os lados funcionavam - e ainda hoje devem funcionar - uns "Estabelecimentos de Comida", como são designados na velhinha tradução portuguesa. Não irei muito longe na sua descrição. Posso apenas asseverar que de noite, no verão, à noite, nesta rua, é possível conviver com baratas do tamanho de camarões, e que, durante o dia, se convive com os tachos e as panelas ali lavadas no chão, mesmo na rua.

Contudo, o que se destaca, de modo proeminente, nesta rua, de nome meu desconhecido, é o odor. Com a humidade e o calor do verão, os odores tornam-se mais intensos e uma mescla de sweet and sour - agridoce para quem não fala estrangeiro - atinge as narinas como um torpedo mortífero. Nunca pensei recear os cheiros. Foi preciso ir até ao outro lado do mundo para entender o seu poder. E posso afirmar com toda a propriedade que nunca devem substimar o poder do cheiro de frango doce às 7h00 da manhã quando ainda não se tomou o pequeno-almoço!

Monday, August 31, 2009

São estas as nossas canções

Harry Patch foi um dos veteranos que sobreviveu à Grande Guerra. Esta é a homenagem dos moços de Oxford, em memória de Harry.

(Só vos digo: ora escutem...)

São estas as minhas canções

Eles dizem que não voltarão a editar mais álbuns. Não sei se gosto. Por enquanto vão fazendo canções e nós por cá continuaremos a escutá-los, seja novo e fresquinho, seja velhinho. (Pois também não sou fundamentalista no que respeita a Radiohead, um dos meus pequenos grandes e velhos prazeres.)

Thursday, August 27, 2009

Fresquinho!

Pois é, caros amigos, cá estamos. A pedido de várias famílias, ou apenas de vários membros da minha família, e porque o que é doce é bom, regresso no final deste querido mês de Agosto. (Já viram a quantidade de expressões conhecidas, mas modificadas, que consegui usar numa só frase?)
E é isto, meus caros. Uma cara mais lavadinha, mais light que vos trago. Mas não só. Espera-se que até ao final de 2009, embora com menos dolce fareniente, e mais fare qualcosa, este blog mostre todo o seu vigor.
Et voilá, o que se quer é que continuem a segui-lo. E a deliciarem-se como eu, com o que é doce. (Porque ao contrário do que dizem por aí, o que é doce, faz é bem. Muito bem.)
Até daqui a bocadinho.

Tuesday, July 7, 2009

No dia em que falei da parte de mim que perdi


Quando os amantes errantes se cruzaram comigo. Via ClubOtaku

No dia em que perdi parte de mim

Numa amena noite de Maio, passava no ecrã de uma certa rua conimbricense um tal filme japonês. Finalmente, cerca de seis anos após o lançamento do filme em Portugal, e após o seu postal promocional enigmático ter chegado às minhas mãos, finalmente assistia a Dolls. Foi este um dos primeiros exemplares da minha pequena colecção de postais gratuitos de filmes.

Um casal surge representado na imagem, ambos vestidos com trajes flutuantes e caminhando num bosque outonal. Pisam folhas de tons alaranjados flamejantes e o seu semblante é triste. No topo, aquela palavra que assumia contornos misteriosos quando combinada com a imagem: Dolls.

Fiquei com curiosidade de saber do que se tratava. Anos mais tarde, o filme chegou às minhas mãos pela mão de mais uma pequena coincidência, junto de outros filmes orientais seleccionados por uma amizade recente. O espanto é visível no meu sorriso. É chegada a hora.

Sento confortavelmente no sofá, encostada aos almofadões, taça de chá verde na mão. Os sons iniciais dos créditos aparecem. Silêncio, que se vai assistir a bom cinema.

Sunday, June 14, 2009

Arigato gozaimasu London!

(Finalmente entrando na tão prometida senda dos sabores…)

Não sei se há quem ainda se delicie com coincidências. É algo que consegue sempre deixar-me maravilhada. Ou pelo menos, surpreender-me. Sejamos honestos: no mundo do been there, done that, é raro ter surpresas. Pelo menos daquelas que fazem bem ao coraçãozinho, que nos fazem dar um pequeno (sobre)salto.

Na minha mais recente viagem ao Reino – e não me refiro ao do Lars von Trier (esse fica para outra ocasião e outro post,), mas ao United Kingdom, de sua Majestade Rainha Isabel II – uma pequena coincidência: caminhando por Leicester Square, em busca de uma loja de livros em segunda mão que tem fama de ser uma das melhores – Any Amount of Books, de seu nome – avisto o Café de Hong Kong ao fundo da rua. “Estranho nome este”, penso. Aproximo-me. E eis que do lado esquerdo vejo num restaurante, placas de metal no meio da mesa. “Oh!”, exclamo, pois trata-se de um restaurante japonês. Mas não um qualquer restaurante japonês. Era – e é – um restaurante japonês de okonomiyaki!



Abeno's front



A prova de que aqui só se come okonomiyaki

A coincidência é de grandes proporções. Há coisa de semanas, um amigo – o meu ilustre companheiro de postcrossing (e carreguem lá no link, hein) – pediu-me que escrevesse sobre este delicioso prato japonês difícil de encontrar no Ocidente. Há já um ano que salivava cada vez que recordava as trincas dadas numa bela okonomiyaki, em Osaka. De regresso ao Ocidente, busquei o pitéu. Mas sem sucesso. Ninguém parece ligar muito a esta espécie de pizza/panqueca oriental.

Fiz uma busca, reli o guia do Japão e finalmente descobriu-se uma receita. E escreveu-se sobre o prato. Entretanto, tendo encontrado um inhame açoriano que substituísse o chinês, que serve de base à panqueca, começava a crescer a esperança de ser possível confeccionar, pelo menos, um sucedâneo de okonomiyaki.

Foi então que no meio daquela caminhada londrina surgiu o Abeno, restaurante de okonomiyaki. Estava decidido: o jantar seria okonomiyaki! E assim foi. Entrei, sentei e observei.

Curiosa a composição da clientela do restaurante. Sentada sozinha, remetida para um canto pelo único empregado ocidental – que amaldiçoei por isso – era a excepção que confirmava que a regra: apenas casais jantavam ao balcão. Agora a estatística: a maior parte dos casais tinha um elemento oriental, e na maioria dos casos, o elemento oriental era do sexo feminino.

No meio da minha reflexão, tirando notas e fotografias mentais do lugar, reflectia sobre a última experiência com okonomiyaki. Este restaurante londrino é mais fashion e minimalista que o velhinho e tradicional restaurante de okonomiyaki de Osaka onde saboreei aquela bela panqueca na internacional companhia de falantes de inglês: Ben, oriundo de San Diego, Califórnia, EUA, Mark, caríssimo neozelandês que me falou da concorrência lusitana – neo-zelandesa, Liz, a very nice londoner e Clare, a menina originária de Kentucky, o que, obviamente, lhe valeu umas fracas piadas sobre o KFC. Poverina!

Em Londres, encontrei-me só ao balcão do restaurante, encarando a okonomiyaki e trocando algumas palavras com o empregado/chef que ia confeccionando a minha apetitosa panqueca. Perguntei-lhe pelo inhame e lá me disse, surpreendendo-me com a informação que pouco inhame se adicionava, e ovo, nem vê-lo. Foi produtivo, tendo servido de base para a minha futura aventura na cozinha nipónica. No entanto, o rapaz não sabia que tempura é uma herança portuguesa. Lá tive de lhe explicar um pouco sobre as relações luso-nipónicas, evocando a sábia voz de Wenceslau de Morais. E cito:

“Os japoneses dizem: tempura (de “tempero”, ou de outro termo parecido). Tempura é qualquer artigo de cozinha, frito em azeite; correspondente ao nosso actual vocábulo “fritura”.” (in O Culto do Chá)

Fiquei um pouco triste com a cara desconfiada do moço. Os ingleses desconfiam sempre de um facto deste género, talvez por sermos um país pequeno. Mas a verdade é que, ainda que a milhares de quilómetros de distância e mesmo que separada por séculos, o facto é que conseguimos deixar uma marca nos lugares por onde nós, almas lusitanas, passámos.

E viva o 10 Junho atrasado! Hip, hip, hurra! Contra os bretões, marchar, marchar!

Friday, May 1, 2009

O sócio 13.123 do Belenenses

Faz hoje 15 anos que Ayrton Senna da Silva morreu. Recordo-me bem desse dia. Era domingo e eu estava de vestidinho branco algures junto da igreja cá do sítio, pois celebrava-se a festa da padroeira. Era também o Dia da Mãe, como sucede habitualmente no primeiro domingo de Maio. Lembro-me do meu pai me ter dado a notícia e de ter ficado bastante triste. Custava a acreditar que aquele senhor simpático tivesse falecido, aquele senhor de sorriso afável que contrastava tão abertamente com o moço da azulinha Benetton, o “sapateiro” Michael.

Nesse dia ainda, recordo as imagens que passaram várias vezes na televisão - na RTP – com o monolugar a embater brutalmente contra a parede de betão, na curva Tamburello, em Imola, no Grande Prémio de San Marino. Dizem que o carro entrou na curva a mais de 300 quilómetros por hora, mas que, ainda assim, desde que iniciara a derrapagem, o piloto conseguira reduzir a velocidade para uns 200 quilómetros por hora. Porém, não foi o suficiente para conseguir evitar a colisão.

Vem-me à memória também o funeral, visto do ar. Esse vi-o em casa da minha avó, creio que à hora de almoço, antes de voltar para a escola. Um grande aparato em torno do carro funerário, ladeado por muitas motas.

Hoje, enquanto lia o Público, a propósito dos 15 anos da morte de Senna, fiquei a saber da ligação do piloto a Portugal, pois refere-se que o brasileiro seria o sócio 13.123 do Belenenses. Pensei para comigo, com alívio, que bom que era que Ayrton Senna se tivesse dedicado à Fórmula 1 e não ao futebol…

Há cerca de ano e meio, tive a oportunidade de conhecer o sobrinho de Ayrton Senna, de seu nome Bruno Senna. Fora a Macau para participar no Grande Prémio. Foi uma festa. O rapaz por lá andou, nos dias que antecederam a prova e em que já se podia escutar o barulho dos motores dos carros e das motas ao acordar (eu morava perto da famosa curva do Lisboa, onde alguém acaba sempre por se espatifar, normalmente algum maluco de mota).

No dia das classificativas, o rapaz mal deu umas voltinhas ao circuito da Guia. Estragou o carro. Não deve ter chorado mais por isso, parece-me. Quanto a mim, também não me surpreendeu muito. O rapaz foi uma pequena desilusão. Completamente desprovido de carisma, pouco tinha que ver com o tio. E o talento para a condução, também não parece abundar. Não tem mãozinhas para aquilo. E nisto do desporto automóvel, é um bocado como o piano: ou se tem mãos e talento, ou não. E mais nada.



O momento em que tira o ténis branco para sentar no carro do "titio"



Mal me lembro de o ver em pista, agora que penso melhor. A recordação mais marcante do moço é ele a tirar os ténis para entrar dentro do antigo monolugar do tio, que é peça central do Museu do Grande Prémio de Macau. O tio era mais pequeno. E mais maneirinho. E nisto dos monolugares, ser “piqueno” é ponto a favor. Deve ter sido por isso que na sua breve passagem pela Fórmula 1, Alex Wurz, embora bem jeitoso, nunca tenha ido muito além nas corridas de monolugar, ainda que fosse o presidente do sindicato dos pilotos: era, no seu tempo, o mais alto, com cerca de 1,86 m e pesadote, indo além dos 80 quilos. A constituição do moço não ajudava. Mas não deixava de ser bem bonito, é de frisar. Loiro, olhos azuis penetrantes e um sorriso terno e suave faziam dele – a meu ver – um bom partido.


Rebuscando um pouco mais o baú das memórias da F1, vem-me à mente o ano de 1999. Ano fatídico para “Schummi”. Corria o querido mês de Agosto, quando, em Silverstone, o já na época bi-campeão de Fórmula 1, ao volante de um Ferrari, se despista e acaba no meio da barreira de protecção de pneus. Nesse dia o senhor apenas partiu uma perna, mas um dos bombeiros presentes foi atingido por um dos pneus que saltou com o impacto, tendo acabado por falecer. Por sua vez, o título de campeão do alemão “foi para o galheiro”, como se costuma dizer nos meios populares.


Ironicamente encontrava-me no Brasil, eu que nunca tivera muita estima por Schumacher. No ano em que Senna falecera, ele saiu a ganhar: sem a concorrência do brasileiro, o alemão acabaria por conquistar o seu primeiro título mundial. O primeiro de sete, o que faria de “Schummi” alguém ainda maior que o argentino Juan-Manuel Fangio, que até 2001 era o único piloto a ter alcançado a fasquia dos cinco títulos na F1.


Com Schumacher de fora, o campeonato animou-se um pouco e a certa altura havia quatro potenciais candidatos ao título. Contas feitas, se as coisas corressem bem a cada um deles, era matematicamente possível ver Eddie Irvine, Heinz-Harald Frentzen, David Coulthard ou Mika Hakkinen levar para casa o cobiçado troféu. O ragazzo irlandês da scuderia italiana esteve bem próximo disso. E era por Irvine que eu torcia. Por Irvine, ou por Frentzen, um moço alemão bem apessoado que já fora da mesma equipa de Schumacher em tempos idos. Infelizmente, o irlandês não parecia talhado para campeão e na prova final do campeonato de 1999, no Japão, deitou tudo a perder, atirando para o colo do finlandês o título de campeão mundial de Fórmula 1.


Ah, aquele foi um bom ano. Não me recordo de ver tanta gente “à cata” do título. Foi mesmo emocionante, diria. Mas esses tempos já acabaram. Os pilotos do tempo de Senna foram-se retirando da modalidade e também o meu entusiasmo foi esmorecendo. Foram-se Gerhard Berger, Jean Alesi, Johnny Herbert, Damon Hill, Mika Hakkinen, Eddie Irvine, Heinz-Harald Frentzen e mesmo Michael Schumacher. Em memórias passadas ficam outros nomes sonantes, como o de Alain Prost, do bobby Nigel Mansell e também de Niki Lauda. Eram outros tempos, eram. O tempo em que as partidas eram aparatosas, em que sempre alguém ficava para trás logo na primeira curva, mas ninguém se aleijava muito. E nós cá em casa ficávamos agarrados à televisão, sempre na expectativa, à espera de ver quem seria o bravo que cortaria a linha da meta em primeiro. Belos tempos esses. Belos. Mas idos.

Tuesday, April 14, 2009

Em Busca da Casa Perdida

Tudo começou há alguns anos durante o exame da cadeira de Comunicação Audiovisual (não seria bem este o nome, creio, mas é irrelevante). O filme era North by Northwest do mestre Alfred Hitchcock e tínhamos de descrever plano por plano uma sequência de poucos minutos, em que vemos a personagem de Cary Grant aproximando-se de uma casa que pensamos ser de Frank Lloyd Wright, ou mesmo de John Lautner. A incógnita despertou o meu interesse e começou a busca por tal casa. Este fim de semana desvendou-se o mistério: a casa não existe. Inspirando-se em Frank Lloyd Wright, o realizador britânico criou-a somente para albergar as cenas finais do seu filme. Não passa por isso, de um mero "prop".
Despertada a curiosidade, acabei por dar de caras com este documentário, Los Angeles Plays Itself. Vale a pena dar uma espreitadela a estas casas, verdadeiras obras de arquitectura. Ainda que muitas vezes sejam maltratadas pelos argumentos que as albergam.

Friday, April 3, 2009

It's a Mini!, she said twice

O que Sara Peres tem em comum com John Lennon e Marianne Faithfull? Não, a moça não canta. Pode cantar, mas canta mal.
Pequenino, vermelho e de tecto branco, o elegante Clubman é um Mini. “It’s a Mini!”, she said. Não se creia que os "cantantes" britânicos possuíam Clubman’s. Seriam antes, de fonte segura, pequenas edições especiais. Afinal, quem pode, pode.

Inicialmente, quiçá à falta de melhor, o seu nome era simplesmente "Caixa-Laranja". Mas nesse tempo, o carro, o Mini como o conhecemos, não existia ainda. Era apenas um protótipo como muitos outros. Porém, nem mesmo em 1959, ano de lançamento, tinha ainda o nome pelo qual o conhecemos. Ainda nesse ano, o Mini não era ainda Mini. O nome estabeleceu-se definitivamente apenas em 1961.

A ideia inicial de Sir Alec Issigonis, o criador do popular automóvel, era desenhar um veículo pequeno, mas espaçoso, e que não consumisse muito combustível. Eram esses alguns dos requisitos que la piccola machina deveria preencher – aliás, o projecto surge precisamente no seguimento da Crise do Suez e consequente racionamento dos combustíveis.

Após o seu lançamento em 1959, os anos passaram e o carro foi sofrendo pequenas mutações. Não é possível comparar um dos primeiros modelos com um dos últimos Mini’s produzidos já no saudoso ano de 2000, já quando a Rover havia sido desmantelada e os direitos de produção do Mini vendidos à bávara BMW.

O pequeno Clubman vermelho de tecto branco é de 1974. Carro revolucionário. Porventura produzido em Setúbal, nesses tempos idos em que o automóvel era também montado em Portugal e em Itália e não apenas em países de língua inglesa. O Mini fala originalmente inglês, mas a sua fama vai além fronteiras.

Veículo de competição, venceu por três vezes o clássico Rallye de Montecarlo e desafiou todos os que duvidavam da capacidade de mr. John Cooper de conseguir transformar o pequeno Mini num campeão de velocidade.

Foi também estrela de cinema. E muitas vezes, para explicar de que se trata a brasileiros, afirmar que é um carro idêntico ao que mr. Bean conduz é suficiente. Porém, ficou famoso com The Italian Job, filme de 1969. Era o ideal para transportar um saque, graças às suas características: pequeno, rápido e com espaço de sobra para passageiros e bagagem. Mais recentemente também se pode assistir a uma fantástica perseguição em The Bourne Identity, em que o pequeno – e já velho – Mini percorre as estreitas ruas de Zurique, conseguindo escapar às garras das autoridades helvéticas. (Duvida-se, no entanto, da capacidade de Matt Damon para conduzir um carro com caixa manual…)

Ele é assim. Pequeno e veloz. 35 anos tem o pequeno Clubman vermelho e branco. E apenas quatro mudanças. Mas com um arranque veloz, responde também rápido. John Lennon tinha um, Marianne Faithfull também. E Sara Peres de igual modo.

Dizem que Sir Alec Issigonis desenhou os "bolsos" das portas de modo a que coubesse no seu interior uma bela garrafa de Gordon’s gin. Sara Peres não sabe, pois não só não é apreciadora de gin, como nunca experimentou transportar uma dessas garrafas no seu pequeno Clubman.

Sara Peres sabe apenas que não há som mais bonito que o ronronar do "vermelhinho". Ou a satisfação que dá acelerar até ao limite da quarta mudança num troço de asfalto. Curvar com o "piqueno" dá prazer e as inflexões da caixa são verdadeiras sonatas para o ouvido atento do condutor.

Há que saber puxar o ar quando é preciso. Clássicos como este são delicados e necessitam de ser compreendidos. Os seus pequenos caprichos de funcionamento só podem ser satisfeitos por um verdadeiro amante da - agora primitiva – engenharia (e mestria!) britânica que os gerou.

Resta um pequeno brinde ao "pai" que o concebeu como hoje o conhecemos. 50 anos é uma bela idade para marcante ícone do século que passou. E também muitos terão também concebido no interior destes carros. Muita sementinha terá sido plantada em estofos de Mini’s. As taxas de natalidade agradecem a existência do belo automóvel. Ergamos os copos de gin e cantemos os Parabéns. A Sir Alec. Salve!

(Irónico é que os yuppies que terão certamente sido concebidos no interior dos Mini’s da velha guarda, provavelmente conduzem nos dias de hoje o novo modelo powered by BMW. Mas não sou purista. Já o disse. Afinal, a lenda continua viva.)

It's a Mini!, she said once

A prova de que não sou purista. E como qualquer condutor que siga o slogan BMW - "Pelo prazer de conduzir" - gosto de conforto e de automóveis com direcção assistida, ora pois!

Sunday, March 29, 2009

Dos pequenos prazeres

São os pequenos prazeres os mais importantes. As pequenas coisas. E os pequenos rituais. E quando nada mais há que fazer senão degustar o dolce fareniente do correr lento dos dias, eis que a eles temos que dedicar a nossa atenção! Urge atentar nos pequenos prazeres! E é para isso que cá estou, mes amies! Ecco!