Jardim de São Francisco, nos primórdios - e sempre! - da minha estadia em Macau. Eu morava aqui, nesta rua, mesmo ao lado do Jardim de S. Francisco, assim para os lados do Clube Militar e do Grand Lisboa, estão a ver? Sim, isso, perto da saída da famosa Curva do Lisboa. Por aí. Havia uma passagem subterrânea que ligava à Rua Dr. Rodrigo Rodrigues, já mesmo a pensar no Grande Prémio de Macau, não era? Para quando fecham as ruas e se torna necessário um meio alternativo de as atravessar, e, como a galinha, passar para o outro lado.
O Jardim era ali perto de casa. Se eu viesse pelo percurso alternativo - havia quem dissesse que, nesse sentido, cortando à esquina do BNU, era mais rápido chegar a casa. Mas esse não era o meu percurso dilecto - teria que subir as escadas do Jardim, cruzando-o, para chegar a casa.
Minto. De início frequentava bastante este percurso. Era o mais rápido para o Tribunal Judicial de Base. E como passava muito tempo no TJB, era este o trajecto mais usado, principalmente naqueles dias em que escapava ao almoço para dormir uma soneca, pois que a necessidade de dormir era mais forte que a de comer.
Recordo-me que até era agradável por lá passar. O Jardim pela hora de almoço era engraçado. Podia-se ver por lá, brincando, os pequenitos que frequentavam a escola mais próxima. Havia um pequeno parque infantil, com baloiços, onde também me sentei algumas noites, depois de findo o trabalho. Era um local aprazível e seguro, pouco frequentado por noctívagos, nessas horas perdidas.
Quer dizer, é uma afirmação relativa. Pois cerca das 5h50, 6h, por lá me cruzei em certas ocasiões com os mais velhinhos. Eles já se tinham levantado da cama e iam para o seu tai-chi matinal. Eu ia para casa, para o meu leito, dormir, pois a hora tardia a isso obrigava.
Mas não só eu por lá havia passado. Outro português, ilustre, diz-se que também lá teria ido, noutros tempos. Um pouco antes. Aquele que escreveu a nossa história em poema, um tal de Luís. De Camões. E no Jardim de São Francisco diz ele:
Nesse poiso
De suave tristeza me acudiam
À memória as lembranças do passado,
Magoadas co'as ideias do presente,
De envolta com os receios do futuro
E acaso de esperança verdejada
Leve folha dos ventos assoprada
Bonito, não?
já estava com saudades da tua escrita. tantas quanto as que tens por esses recantos orientais que outrora foram a tua "casa". havemos de lá ir um dia. juntos. quanto ao poeta, as suas palavras dizem tudo.
ReplyDeleteBruninho, hoje dei de caras com este comentário teu e só pensei: «Este gajo 'tá-m'a endrominar, porque ele não anda d'abião!» :)
ReplyDeleteO poema intitula-se Camões mas não foi escrito por Camões. O autor é Almeida Garret.
ReplyDeleteObrigada pela nota, João. Não passei tempo suficiente em Macau para vir a saber desse facto.
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