Thursday, October 10, 2013

Frase(s) do Dia #52

Ou, citando o senhor Cleese: «And now for something completely different.»

Limpando o e-mail dos anúncios de emprego que nunca se deixaram de subscrever, apareceu isto:

Post: procuramos blogger para blog de uma rede social portuguesa

Procuramos blogger para elaborar artigos diários para o blog de um site de uma Rede Social de Encontros entre pessoas casadas.
O trabalho será para ser feito em part-time e a partir de casa.
A Rede Social facilita encontros entre pessoas casadas.
Deverá de possuir uma boa capacidade de escrita e uma grande imaginação.
O blogger deverá de escrever um artigo diário sobre infidelidade, relações, casamento, aventuras amorosas, etc .
[...]
Os artigos serão colocados directamente no blog da nossa rede social casadasinfieis.com, e será um trabalho a longo prazo e bem remunerado.

Thank you dear Sir Tim Berners-Lee for providing bored married women some extra-marital fun. (Or not.) -.-

Wednesday, October 9, 2013

Depois do adeus

Em Frankfurt, sentimos o céu esmagar-nos, descendo sobre as nossas cabeças, pressionando-nos contra o chão.

Era o final do mês de Julho, início de Agosto. Não chovia ainda, mas o céu erguia-se cinzento na ponta dos arranha-céus. Era um mês atípico na cidade, mas ainda assim, o bulício rotineiro do seu dia-a-dia era perceptível. Atravessando as largas avenidas que abriam caminho entre os altos edifícios, alguns símbolos germânicos pareciam fazer sentido, como se de um prolongamento da cidade se tratassem: o tom escuro dos fatos Hugo Boss, o preto dos Mercedes-Benz e dos BMW que povoavam a cinzenta urbe. Era uma cidade ventosa, fria, onde o céu era um espelho dos monumentais prédios de vidro e aço.

Os arranha-céus roçavam os céus forrados de nuvens escuras e o vento varria as avenidas, anunciando a tempestade. Subitamente sentiram algumas gotas cair e, ainda em silêncio, apressaram o passo em direcção ao carro.

Ela não sabia bem porque ali estava. «Naquela direcção?». «Sim, vamos», respondia ele nos seus diálogos que lentamente se estavam a transformar em monólogos. Ela já não tinha mais nada para lhe dizer. Mas talvez ele também não estivesse interessado.

Ela inquietava-se por não saber explicar porque estava ali. «Pelo menos aqui já não chove», pensava. «Pelo menos já não está tanto calor», dizia si mesma, como que procurando um qualquer motivo de consolação que a impedisse de sentir o peso que carregava dentro de si. Mas não estava a resultar.

«Como ficámos assim?», questionava-se. Como deixou se deixou chegar àquele ponto? Quando se tinham perdido um do outro?» «Um capricho», pensaria anos mais tarde. «Um capricho pelo qual me deixei embalar». A culpa não era exclusivamente dele, porque ela o deixara levar a sua dignidade. Por isso sentia o peso da culpa. E da vergonha. A dignidade era o que mais valorizava e deixara-o arrasá-la, porque julgava que o amava. Mas não sentia amor.

A situação era ridícula e sabia-o. Perdera tudo em poucas horas. Consolava-a apenas saber que, na realidade, a responsabilidade pertencia a ambos. Sabia também que quem ama, perdoa. E ele não lhe perdoara o momento em que perdera a calma e se vira despojada de toda a racionalidade.

Era complicado. Fora tudo muito confuso. Amor e raiva misturavam-se. Mas, como sempre, não adiantava pensar nisso. «Já passou», dizia, procurando convencer-se. Talvez nunca tenha compreendido o que aconteceu naquela cidade cinzenta, quando ambos passeavam de rostos pesados. Não eram mais amantes, porque o amor se desvanecera. Não eram namorados, porque o afecto desaparecera. Restava somente o conforto da  realidade, de que ninguém agiu mal, que ambos se magoaram. Mas era assim que devia ter sido. Era suposto ela sofrer. E era suposto ele crescer.

[O bonito céu de Francoforte em pleno Verão.]

[Publicado originalmente a 10 de Junho de 2008.]

Tuesday, October 8, 2013

Desejo #1

Indo pé ante pé, sem ambicionar demasiado, pensando nas pequenas coisas, esta semana desejo apenas que a Academia Sueca não se lembre de premiar com o Nobel um escritor de nome imperceptível.

(E claro que desejo, como já é hábito, que o grande terramoto que está para vir não me mate esta semana.)

Monday, October 7, 2013

Dúvida #1

Porque é que o coração, sendo um músculo, não se consegue adaptar à dor?

Saturday, October 5, 2013

To be, or not to be

Estar ou não estar. Sentir ou não sentir.

Agradecer ao acaso o acaso.

Resignar-se com a brevidade.

Resignar-se.