Sunday, August 26, 2012

Sem número, número 4

Hoje, durante uma esforçada corrida - foi o terceiro dia desde que reiniciei a actividade física após semanas de imobilidade -, ao sentir dores, recordei-me de uma manhã em que acordei cedo, cerca de umas 6.30, 7.30, tomei o pequeno-almoço e me dirigi à farmácia mais próxima para comprar uma embalagem de Nurofen. Paguei, traguei dois comprimidos de uma assentada, dirigi-me ao teleférico e subi à montanha. Era o penúltimo dia de ski dessa minha estreia (e até agora, para minha tristeza, única incursão) na neve. E não havia dor muscular que me fosse impedir de subir a montanha até ao topo da última pista vermelha e descê-la o mais rápido que pudesse.

Em pouco mais de seis dias, aprendera a equilibrar-me, a travar, a curvar, a ganhar velocidade, a dar pequenos saltos, a esquiar. [Para quem se tinha em tão má conta no capítulo da prática desportiva, serviu para perceber a força e a imensidão da minha preguiça. E também o quão diferente teria sido a minha vida se alguma vez tivesse feito frente à preguiça - e aqui imagino uma preguiça gigante (o bicho) a fazer-me peito. Mas isso já é pura parvoíce.]


Vou lembrar-me até ao fim dos meus dias da primeira visão que tive da montanha, cá do fundo, junto às pistas verdes: eu soube, algures nas minhas entranhas, que queria e iria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para subir aquela montanha e deslizar até cá abaixo; eu a deslizar naquele manto branco; eu a escutar o silêncio do vento e dos esquis a rasgarem a neve; eu, tranquilamente, a esquiar e a divertir-me ao máximo (Claro que para isso seria necessário um domínio mínimo da coisa). Subi, desci, caí tantas vezes que perdi a conta, levei com algumas pessoas desgovernadas em cima, zanguei-me com a instrutora eslovaca, chorei e maravilhei-me perante as minhas capacidades de aprendizagem. Pela primeira vez em anos, ambicionara algo e conquistara-o. And ain't that something?

Agora, sempre que vejo uma embalagem de Nurofen, penso em ski. Mas ou é mero reflexo pavloviano ou a  memória a ser parva.

PS - A cereja no topo do bolo, o efeito inesperado de tudo isto foi ter perdido o medo/pavor (!) das alturas. Essa é que eu não esperava, mas tem-me sido bastante útil. Principalmente para caminhar sobre pontes/plataformas de vidro e/ou transparentes sem ficar paralizada, em pânico.

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