Passaram quase dois meses desde a última vez que escrevi para a Preguiça. Não porque me tenha deixado apanhar pela preguiça – o pecado capital e não o bicho -, mas porque fui apanhada numa curva metafórica. Qual Schumacher em Silverstone em 1999, tive de me ausentar por algum tempo para efeitos de convalescença e eis-me de regresso.
O problema de uma ausência assim é que, mesmo que se exercite o corpo, o cansaço acaba por esgotar as ideias. E sem ideias não há post. Sem post não há Minudências. Sem Minudências… oh, o que seria do mundo sem este blogue?
Como é costume, fui consultar o oráculo contemporâneo que é a Internet. Onde se vão buscar as ideias? Escrevi inspiration no Google e ele devolveu-me as seguintes expressões: «inspiration quotes», «inspiration software» e «inspiration cruises». Deveria fazer um cruzeiro, é isso? «Inspiration Cruises & Tours is a Christian travel management company specializing in group travel experiences for Christian ministries and churches since 1981.» Bom, bem sei que esta é uma época muito importante para os Católicos, mas não sei se é um cruzeiro que me safa. E o software? «Inspiration Software, Inc. is an education technology software company based in Portland, Oregon, which provides several visual thinking and learning products for the K–12 education and business markets.» Parece que fazem mind maps e coisas assim. Isso é capaz de ajudar, mas queria uma coisa mais prática.
Segui o caminho para as «quotes». Ele há aqui muitas citações sobre «fazer o impossível». Fico assustada: não quero fazer coisas impossíveis. Só queria ter uma ideia. «Acreditar» e «mudança» são palavras muito usadas. Por momentos pensei que estava no site de um partido em campanha. Acho que ainda não é isto que me vai ajudar. Escrevo «writers» e «inspiration». E aparece uma torrente de sites com estratégias, citações, recursos, tudo para que uma pessoa escreva a rodos. Ora, no tempo do Camões não havia disto. Nem sequer no tempo do Calvino.
Escrevo «what inspire writers?» e saem-me sonhos. Acho que se os sonhos me inspirassem, escreveria algo parecido com Naked Lunch, do William S. Burroughs. Não parece boa fonte. Mas diz-que o Frankenstein (Mary Shelley) e Dr. Jekyll and Mr. Hyde (Robert Louis Stevenson) foram escritos a partir de sonhos. Isso explica algumas coisas. Indago um pouco mais e parece que há muitas formas de conceber uma ideia, como viajar, ouvir música, escutar o que os outros dizem e até meditar. Fico de certa forma aliviada por saber que os autores mais conhecidos tiveram períodos em que as ideias rareavam: F. Scott Fitzgerald padeceu desse mal, mesmo tendo escrito «The Curious Case of Benjamin Button», e até o pai dos Peanuts, Charles M. Schulz (que criou centenas de tiras!). Ainda bem que escrever coisas para viver não é meu mister. Sinto-me melhor.
Lendo atentamente, procurando outros exemplos famosos de writer’s block, percebo que a maior parte dos artigos dá destaque a conselhos sobre como ultrapassar o bloqueio. E são todos muito semelhantes, apelando a que se combata a escassez de ideias com várias tentativas. Apesar das diferenças, Beckett, Twain, Atwood, todos são unânimes: tentar é preciso. Bom, nesse caso, parece que me adiantei ao conselho: voilà, acabei de criar um novo post!
Oh well, parece que estou de volta.
(Publicado a 1 de Abril de 2015, sujeito a ligeiras modificações.)
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