O facto é que, se, para alguns, isto é o desejado regresso à "normalidade", quanto a mim, só agora começo a sentir-me desconfortável na nova realidade. Tive a sorte (será?) de ir de férias antes do início da quarentena oficial e regressar da Catalunha menos de 24 horas antes das fronteiras encerrarem. Cheguei a casa numa sexta-feira e segunda-feira comecei de a trabalhar a partir de casa. Estava, apesar de tudo - apesar do receio de contágio, da impossibilidade de visitar a família - descansada, e os quinze dias que se seguiram foram o meu período mais produtivo.
À medida que o tempo tem passado, é-me cada vez mais difícil agarrar à rotina, à produtividade, a cumprir as listas de tarefas. O que é isto? Como voltar a ser a mesma pessoa quando tudo à nossa volta está mudado, quando não somos os mesmos, ainda que a nossa natureza permaneça imutável? Não sejamos ingénuos: sim, houve gestos de solidariedade, houve-os, felizmente. Mas não se deixem enganar: o lobo não se transformou em cordeiro e a serpente em andorinha. A nossa natureza permanece a mesma, apenas mais visível. As bestas apenas ficaram mais bestas.
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