Wednesday, December 2, 2020

Sem número, número 46: A medida certa

É difícil, se não impossível, quantificar o inquantificável. Parece óbvio. Como quantificar afectos ou dores? Ou o impacto de um acontecimento nas nossas vidas? Como se vertem sentimentos para um copo medidor? Como se pesa o sofrimento? 

E como conseguimos nivelar a importância de determinados eventos? Como acertar na relevância merecida? Como se faz isso?

Peco por exagero, porque acho que os nossos actos não são inconsequentes. Haverá sempre um resultado associado à aritmética das nossas acções. Creio nisso. Contudo, essa fé (como todas as crenças, em bom rigor), não é, nem tem de ser partilhada. Ainda assim, eu (e quase todos os filósofos e percursores das ciências sociais que estudei na faculdade o escreveram) tendo a espelhar a minha visão pessoal da realidade no(s) outro(s). Aplico a minha exigência à realidade circundante. E é aqui que falho redondamente: porque não se pode fazê-lo. É um erro pensar sequer que o mundo se rege pelas minhas leis. É um pecado mortal, até: vaidade. Simplificando, é isto: pensar que a realidade é justa e recta, quando nem eu o sou, por mais que o deseje e vá tentando.

Ainda assim, posso afirmar que a realidade tem lógica. Embora se trate de uma lógica pessoal, que muitas vezes deriva de e funciona em poucas cabeças. E nós, de acordo com a nossa posição na hierarquia social ou emocional, temos de nos sujeitar a ela. E à aleatoriedade basilar da existência, que nos vai recordado dia-a-dia, que nada somos, nada sabemos e, mais importante, nada controlamos. 

Apenas somos e podemos só tentar lidar o melhor que conseguirmos com «isto» que se nos apresenta dia após dia. E procurar conferir a importância certa às acções alheias. Para não nos aleijarmos (muito).

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