Tuesday, April 5, 2011

Lista #6: Livros que li algures em 2010 e nos primeiros meses de 2011 - Parte II

(A meio da lista anterior percebi que afinal tinha lido mais uns livrinhos durante estes 14 meses. Seguem os restantes, por ordem alfabética.)

11 - Bartleby, Herman Melville: o escrivão do não, Bartleby é o homem isolado na multidão. Ao contrário das obras iniciais de Melville, com sucesso no seu tempo, Bartleby faz já parte de um conjunto de textos produzidos num período mais sombrio da vida do autor, em que escrevia para tentar sobreviver e não era mais aclamado. Curiosamente, são as obras que não foram aclamadas durante a sua vida, que a memória guardou para a posteridade.

12 - O Livro do Chá, Kakuzo Okakura: incursão à filosofia japonesa a partir do ritual da cerimónia do chá, escrito por um japonês que viveu a maior parte da sua vida entre os ocidentais. Delicado e belo como um jardim de sakuras em flor.

13 - O Falecido Mattia Pascal, Luigi Pirandello: a sinopse, por si só, diz o que é preciso para nos prender ao livro. E foi o que me prendeu parcialmente a este italiano (para mim) desconhecido. Depois veio a escrita de Pirandello e devorou-se o livro num instante. «Witty» é a palavra mais apropriada para descrever o início do livro e a narração de Mattia Pascal, que amadurece à medida que a personagem principal vai também crescendo. Este é, sem qualquer sombra de dúvida, para mim, um dos «greatest books of all time».

14 - Pisar o Risco, Salman Rushdie: foi oferta e não compreendo muito bem porque me foi ofertado. Embora não tivesse tido nenhum contacto com Rushdie, excepto quando jovem me foi dito que Os Versículos Satânicos seriam uma boa prenda para constar de uma biblioteca, abri a mente e os olhos e li-o. Trata-se de um conjunto de textos soltos, ensaios, artigos de opinião publicados em jornais, textos proferidos em conferências, agrupados em torno de dois ou três temas (já não me recordo bem) que contêm frequentemente referências biográficas à vida do senhor Rushdie. Não gostei desta faceta do escritor. Após ter lido o livro "fiquei na mesma". Tê-lo lido não mudou nada e isso nunca é bom sinal, tratando-se de um livro. Apesar de ficar a conhecer com maior detalhe como foi a sua "prisão domiciliária" graças ao Ayatollah e a sua amizade com os U2, que o levou a escrever a letra da cantiga que tem o mesmo nome que um dos livros do senhor - The Ground Beneath Her Feet - é um daqueles livros que facilmente esquecerei que tenho na estante. Porém, devo ser imparcial: o texto inaugural, em que analisa o filme The Wizard of Oz vale a pena. Mas só isso, mesmo.

15 - A Raposa Azul, Sjón: este foi lido em meados de 2010, estou certa, pois recordo-me que o comprei na Feira do Livro de Lisboa, nos primeiros dias de Maio. É pequenino, de um autor islandês, mas a sua verdadeira dimensão reside na grandeza da história. Um pequeno conto que faz uma raposa falar, mas que certamente, pela crueldade dos homens nele descritos, só deve ser lido por adultos. É belo na proporção da fealdade do Homem. (Mas talvez seja suspeita, pois o autor escreveu também as letras do meu musical preferido, Dancer in the Dark.)

16 - O Carteiro de Pablo Neruda, Antón Skarmeta: tenho o péssimo hábito - e já o escrevi e publiquei algures - de ler os livros e ver os filmes. Neste caso, ainda não vi o filme - shame on you!, gritam todos - mas já o li o livro. Quantos de vocês já o terão feito? Pois, foi o que pensei... Gostei de lê-lo. A simplicidade do carteiro Mário fará qualquer um com um coração sorrir.

17 - Paisagem com Grão de Areia, Wislawa Szymborska: foi mais uma incursão na poesia, esta mais difícil, para quem não lia poesia há anos (mas a culpa não é minha: experimentem três anos de Português A com a professora que tive e desenvolvem uma espécie de reflexo condicionado associado à leitura de poesia que vos traz uma sensação terrível, não obstante a harmonia das palavras que estejam a ler - demora anos a ultrapassar!). As palavras da Nobel polaca são doces, mas também irónicas e duras. Um exercício trabalhoso, mas que (re)compensa.

18 - A Mão Ao Assinar Este Papel, Dylan Thomas: uma oferta que abre o espírito. Dylan Thomas recorre a imagens e metáforas belas, mas senti-o sempre sombrio. Tem lugar cativo na mesinha de cabeceira.

19 - A Rosa, Robert Walser: reúne pequenos textos de Walser e expressa na plenitude o seu amor pelos pequenos nadas. É uma boa forma de o conhecer. Depois d'A Rosa, fiquei com sede de Walser. Figura no topo da wishlist literária para depois da tese.

20 - Contos Populares Chineses II, Vários: apesar de "não gostar de pessoas felizes", como disse uma vez ao amigo David, por vezes também necessito de finais felizes não adulterados pela Disney. E é para isso que servem estes contos populares.

No comments:

Post a Comment