A instabilidade é uma merda que faz mal. É um facto. E quem disser o contrário, é, no mínimo, idiota. Por isso, parece-me inevitável sentir um misto de estupefacção e raiva quando leio/ouço notícias em que um chico-esperto afirma que as novas gerações se caracterizam pela instabilidade, que é «um traço» que as distingue.
Como não praguejar perante tamanha estupidez? Não se trata de «um traço» das gerações mais jovens, caros. É uma condição imposta. As novas gerações existem e têm de trabalhar num mundo onde a instabilidade lhes foi apresentada como algo inevitável. Dizer que, ao contrário das gerações anteriores, os jovens «preferem a liberdade», e que «não querem ter o mesmo trabalho para o resto das suas vidas», é (permitam-me usar a expressão estrangeira), a load of bullshit. Talvez grande parte das novas gerações optasse por um trabalho estável, ou uma vida estável, se tivesse sequer a possibilidade de escolher. Só que não tem, porque não existe.
Somos atirados para a realidade pré-existente com o pouco que temos (formação, maturidade, experiência) e, a partir daí, é desenrascar. Como se jogássemos com as cartas que um qualquer croupier escolheu para nós, tendo de nos reger pelas jogadas dos adversários, que têm na sua posse todos os trunfos de alto valor, enquanto nós tentamos apenas somar meia dúzia de pontos. Não é fácil, não é agradável, e envolve, acima de tudo, sorte. Por isso, por favor, senhores, não sejam parvos e não nos tratem como se fossemos estúpidos.
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