Wednesday, September 23, 2020

Blogception#2: Um blogue dentro de um blogue

A propósito da poesia e da minha relação com ela, lembrei-me ontem que já havia abordado o assunto há uns anos. Mais precisamente no início de Novembro de 2013, no Minudências

ENTRANDO DOCILMENTE NESSA NOITE SERENA

Ou, pervertendo o original de Dylan Thomas: «do go gently into that good night». E segue a declaração de interesses: não sou amiga da poesia. Não tomo chá com ela ou vamos juntas às compras. Não somos amigas, pronto.

Não nos relacionamos mal, contudo. Gosto dela e até aprecio a sua companhia. Mas só às vezes. É como aquele «amigo/a» de quem gostamos, até, mas com o qual temos medo de passar demasiado tempo, porque não queremos apanhar seca. [OK. Uma pessoa assim como eu.]

Ainda assim, já li Dylan Thomas, Wislawa Szymborska, Herberto Hélder, um poucochinho de António José Forte, Al Berto, e.e.cummings, William Blake e mais uns quantos, creio. Estes são os que moram nas minhas estantes ou que por lá já passaram (excepto o António José Forte).

Enfim. Não sei muito sobre ela, a verdade é essa, muito embora já tenhamos sido apresentadas há muito tempo. O que se passa é que as nossas relações não começaram da melhor forma.

Deixem-me ser exacta: o problema da minha ausência de intimidade com a poesia não vem do momento em que nos conhecemos. Quando me foi apresentada, até correu tudo bem: devia ter entrado há pouco tempo na idade dos dois dígitos e lia alguns clássicos portugueses, como Camões ou Florbela. Não me recordo de reflectir muito sobre o assunto ou tema, mas soava bonito.

Entretanto cresci mais uns anos e acabei por ter Português A, no ensino secundário. O extermínio da beleza da poesia e a professora da altura conduziram a um afastamento. Com alguma dor, até.

Só recentemente, há cerca de quatro anos, por influência de um caro amigo, recuperei o velho interesse e recomecei a ler poesia. Sempre por recomendações. Nunca nos tornámos íntimas, e achei melhor confiar no conselho de quem é leitor mais experiente do que eu.

Portanto, não sou a melhor pessoa para avaliar a qualidade de um texto poético. Mas diz que anda por aí muito poeta nacional de categoria. E curiosamente, a poesia, que não vende, vai vendendo. Talvez porque a lógica do mercado não a conseguiu dominar e esta deixou-se estar no seu nicho, sossegada, mas sustentável.

Lembrei-me disto porque soube que foi ontem apresentado na FNAC de Coimbra o novo livro de poesia de Luís Quintais, Depois da Música (Edições tinta-da-china). Este é o terceiro livro da colecção de poesia coordenada pelo Pedro Mexia nesta editora, que não tinha propriamente uma «tradição poética». É coisa rara, nestes tempos, ver editoras inaugurarem colecções de poesia e, ainda para mais, com obras de autores contemporâneos, porque, como disse, por mais prazer que possa gerar, é um género pouco marqueteiro. E talvez pelos motivos que aqui expus: porque é preciso conhecê-lo bem, para entendê-lo. Se calhar, a poesia sente-se mais do que se lê. De qualquer modo, eu cá continuarei com os meus velhos hábitos, visitando-a de tempos a tempos e cumprimentando-a sempre que a vir atravessar a rua.

(Publicado a 7 de Novembro de 2013, sem alterações.)

No comments:

Post a Comment