Também eu estou assim. Em queda, flutuante, numa manhã que acordou como eu, cinzenta e distraída. Falta café, o combustível dos dias. Lá fora as andorinhas esvoaçam desorganizadamente, desinteressadas do meu olhar e do que quer que seja que se passe deste lado do vidro.
And yet, sinto-me bem. Nada me parece particularmente importante nesse momento, além do meu olhar. Ainda que vasculhando textos antigos e ideias, que, apesar da imaturidade, vinham carregadas de emoções e sentimentos, sinto-me bem. Apesar desse confronto. A única diferença é que,agora, as palavras vêm devagar, preguiçosas e é preciso abrir caminho pelas camadas de indiferença que fomos assentando para que fosse possível continuar avante.
Mas afinal, estamos vivos. É um engano. Ludibriamo-nos. Quando confrontados com o objecto que origina a dor, uma torrente sentimental irrompe de nós, como magma de um vulcão em erupção. Felizmente, tal como as erupções e os terramotos servem para aliviar as tensões, também o confronto tem a sua utilidade. Aparentemente, as colinas do Etna são terreno fértil para o cultivo da vinha. E foi graças à erupção do Vesúvio em 79 AD que Pompeia e Herculanum se mantiveram preservadas até hoje. Pelo meio morreram centenas de pessoas, mas, vá, we all die, right? [Sarcasm alert.]
Talvez seja necessário magoar e ser magoado. Quando era criança, avisavam-me frequentemente dos perigos que poderiam acontecer ao saltar de muros. Nunca prestei muita atenção, até ao dia em que parti a cabeça. Mas depois do susto, da dor, do sangue, dos pontos a sangue frio, nunca mais voltei a saltar muros sem avaliar onde iria aterrar. E, desde então, não voltei a partir a cabeça. Já quanto aos muros, não sei se voltaram a partir cabeças. Talvez. Quem sabe?
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