Monday, September 21, 2020

Sem número, número 38: Da perda

Em italiano, quando alguém morre, usa-se por vezes a expressão si è spento. É uma forma bela de dizer que uma vida se extingue ou deixa de existir. E, no fundo, é isso que acontece: uma vida chega ao fim, perde-se. Extingue-se. E deixa atrás de si um vazio, uma escuridão igual à da luz que se apaga.

Tenho sido muito afortunada, pois vivi poucas perdas ainda. Mas, à medida que o tempo avança e vou assistindo à dor da perda nos rostos e nas vidas dos que me são próximos, assusto-me. A irreversibilidade da morte, esse murro que se recebe no estômago e revolve as entranhas é um sentimento que não experimentei, mas me impressiona. Não consigo deixar de me tentar colocar no lugar do outro, procurar a empatia, mas só esse exercício, ainda que tão distante da realidade, custa-me.

Como tudo o resto na vida, não há manual de instruções e cada qual reagirá a seu modo. Não faço ideia de como reagirei no dia em que perder os meus pais, ou os meus avós. Também procuro não imaginar muito. Anseio apenas que ocorra num tempo distante. Apenas isso. Mas, num ano tão trágico, de tantas perdas, é inevitável não pensar em todos os que nos deixaram fisicamente. Guardemos a memória da sua passagem, porque esta não deve, nunca, ser em vão. 

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