Friday, December 28, 2012

Frase do Dia #37

Rumo a casa, antes de penetrar nas entranhas da terra - vulgo metro -, achei que deveria dar um salto a uma livraria. Fui, entrei, dirigi-me à estante pretendida e encontrei imediatamente o que queria, rejubilando, porque havia apenas um exemplar do livro desejado. 

Tendo já devorado meio livro, que já se vai colorindo de sublinhados, eis algo que entrou pelos olhos dentro:

«O mundo inteiro puxa-nos para baixo, mas as mãos de quem gosta de nós atiram-nos para o alto. Sem se cansarem.»

E eu pensei, ao ler O Pintor Debaixo do Lava-loiças, do Afonso Cruz, na minha família e nas poucas - mas maravilhosas - pessoas que ainda se preocupam comigo. 

Wednesday, December 19, 2012

Frase do Dia #36

Meditando sobre o objecto do jantar, que envolveria pequenos pedaços trucidados de um chouriço, eis que penso sobre os prazeres da carne e da comida, no geral. Assoma ao pensamento a visita do senhor Palomar ao talho, durante uma ida às compras, como nos conta Italo Calvino:

«Um sentimento não exclui o outro: o estado de alma de Palomar na bicha do talho é simultaneamente de alegria contida e de temor, de desejo e de respeito, de preocupação egoísta e de compaixão universal, o estado de alma que outros talvez exprimam na oração.»

É por isto que os prazeres e as tentações da carne andam de mãos dadas com a religião.

(Já Fellini dizia que isso tudo se concentrava em Roma - filme e cidade -, algures entre os devoradores de pasta, as prostitutas e os desfiles de moda religiosa.)

Sem número, número 10

era de Magritte que me recordava, do Império das Luzes.

foi com esse quadro que sonhei naquela noite.

mas era natural, pois nessa noite finalmente repousara em casa depois da viagem a Veneza.

Veneza, que anos antes me fascinara à chegada.

mal pus os pés fora da estação e me depararei com o canal, tive consciência que, de facto, a cidade existia.

é algo que me acontece com frequência.

só compreendo que determinadas coisas existem quando entram pelos olhos dentro.

por isso tenho errado tanto.

com as pessoas principalmente.

(isso é o que mais me preocupa.)

li algures uma vez que os japoneses são exímios em valorizar o erro.

consideram-no algo positivo, dizem que impulsiona o processo evolutivo.

é uma oportunidade de aprendizagem.

nós, em contrapartida, condenamo-lo, reprimimo-lo e desprezamos todo o fracasso.

também já interiorizei essa ideia.

e por isso tenho pavor de falhar.

e, ao sentir-me assim, sei-me incompetente.

incompetente porque não tenho capacidade para lidar com o fracasso.

sinto-me débil, susceptível.

e creio que é isso que se sente quando se tem medo.

e eu tenho muito medo.

e quanto mais medo tenho, mais medo de ter medo sinto.

porque o medo é paralizante.

há quem diga que o medo não é tão mau, pois faz-nos ponderar e pensar.

talvez seja verdade.

impede a impulsividade.

e ao sermos impulsivos incorremos, frequentemente, no erro.

e já sabemos o que o erro, entre nós, implica.

não é o Império das Luzes. mas podia ser

24 de Outubro de 2005

Saturday, December 1, 2012

Frase do Dia #35

Indaguei na minha memória e estou convencida que nunca li um autor norueguês antes. Estreei-me com Kjell Askildsen e Um Repentino Pensamento Libertador (título sugestivo, hein?) e não estou nada arrependida. Quando muito, irritada por só agora ter iniciado a leitura. São uns quantos contos dos bons e a forma como o senhor vai expondo as relações entre as pessoas - pai/filho, marido/mulher - é crua, reveladora e muito realista. Só posso dizer: «gosto muito».

«Na realidade não podemos evitar ser quem somos, pois não? Estamos completamente à mercê do nosso passado, não é? E nunca fomos nós que criámos o nosso próprio passado. Somos flechas disparadas do útero da nossa mãe, e aterramos num cemitério. Que importância tem então - no momento de aterrar - se voámos alto ou baixo? Ou se voámos para longe ou não, quantas pessoas magoámos pelo caminho? Isso, disse Vera, não pode ser toda a verdade.»

Let's hope not.

Tuesday, November 6, 2012

Tesourinho deprimente #2



Piaggio I e II, algures entre 11 e 15 de Setembro de 2005. Este era o veículo de transporte do incorniciatore vizinho, que morava dois números abaixo do prédio do nosso apartamento. Não, não estou a chamar nomes a ninguém: um incorniciatore é um emoldurador. Na fotografia I não se vê bem, mas na montra estavam algumas daquelas molduras grandes e douradas que costumam ser usadas em quadros de museu. Uma coisa bem à Renascença, bem típico de Florença.


Piaggio III, algures em Janeiro de 2009. No meu regresso a Florença, volvidos três anos, não podia deixar de passar naquela que foi a minha rua durante algum tempo. E lá estava o mesmo veículo do senhor emoldurador. Estacionado exactamente no mesmo sítio onde estava há três anos. É o tipo de cena que faz pensar que realmente ele há coisas que nunca mudam.

Sunday, November 4, 2012

Frase do Dia #34

Esta é tão velhinha, não só nas suas origens, mas na leitura desta leitora:

«Cismo, por vezes, no que dirão de nós os futuros historiadores. Bastar-lhes-á uma frase para definir o homem moderno: fornicava e lia jornais.»

Camus escreveu isto, colocou o dito na voz de Jean-Baptiste Clamence, o tal do juiz-penintente d'A Queda, posicionou-o em Amesterdão, junto de um canal qualquer, com um homem qualquer - isso não é importante até porque o livro é um longo e gigantesco falso diálogo - e pronto, ficou gravado para sempre. Um dos desafios que me tenho colocado nos últimos anos, desde que li o livro, é tentar adaptar o dito à contemporaneidade. E assim, alteraria a última parte da última frase para «fornicava e lia notícias no seu iPad .» (Ou tablet, vá.)

Thursday, November 1, 2012

Sem número, número 9

Os pés iam deslizando pelo tatami, cruzando os corredores iluminados pela tranquilidade dos raios de sol que as paredes de papel deixavam atravessar. Um shogun sentado, imóvel, de olhar vazio, ocupava o centro da sala, enquanto uma gueixa servia chá. A cena parecia preparada para receber alguém. Um estrangeiro, talvez. Ela olhava as cores e imaginava o cenário com vida, onde pessoas feitas de carne e osso se movimentavam vagarosamente. Caminhava devagar, pisando o tatami suavemente. Sentia a lycra dos collants roçar o chão e o frio que restava do Inverno já quase a chegar ao fim. Um ligeiro arrepio subiu ao pescoço: era uma sensação agradável.

Era a segunda vez que caminhava descalça, naquela manhã. Antes do castelo, visitara um templo, onde, como é habitual, fora obrigada a retirar os sapatos. Por breves momentos assistira a uma cerimónia cujo fim desconhecia, mas onde o que suponha ser um monge ou padre retirara uma série de objectos da manga, empunhando-os de seguida. Um leque, um par de óculos, um pedaço de papel, a partir do qual lera (o que lhe parecia serem) algumas frases. Sentou-se no chão. Sentiu-se livre, como se, momentaneamente, o espírito tivesse libertado o corpo.

Tranquila, assistia aos gestos lentos do cerimonial. O mestre – chamemos-lhe assim – ergueu o leque. Depois, retirou da funda manga um pequeno rolo de papel, a partir do qual entoava algumas palavras na sua língua materna. Pelo desconhecimento do japonês, deixou-se embalar pelos sons que o ar trazia suspensos. Cheirava a incenso e, ao fundo, Buda vigiava os presentes. Uma mulher segurava as portas deslizantes e, delicadamente, fez-lhe um sinal, pedindo que saísse. Levantou-se, devagar, e saiu. Partia pacificada, ainda que sem perceber o que lhe acontecera.

À tarde, no castelo, quando se descalçou, sentiu que a luz filtrada pelas paredes de papel a atingia. Tudo parecia diferente: sentia o chão, mas era como se flutuasse. Deixava os pés deslizarem no tatami e descobria o seu toque, sentia a textura. Percorria as diversas salas, onde se erguiam ilustrações naturalistas, decorando cada reflexo de luz e memorizando cada sensação nova.

Quando finalmente saiu para a rua, sentou-se nos degraus de madeira, calçando os sapatos. Inesperadamente, sentiu, pela primeira vez, o pé no sapato. Lembrou-se da sua infância, da história de Cinderela. Sorriu. Encontrara o seu - o sapato - e também se sentia feliz. Ou, pelo menos, assim lhe pareceu.

Recordar-se-á, para sempre, dos primeiros passos na gravilha depois de ter atado os ténis. Sentiu a terra como parte de si; sentia cada pedra que pisava. Ouviu algures o som do koto, o instrumento de cordas japonês. Estava em lado nenhum. O corpo absorvia as sensações e pacificamente acolhia-as no seu interior transformando-as num sentimento de profunda tranquilidade. Cada passo era sossegado, ponderado. Cada passo uma viagem. E nessa viagem física, nessa breve caminhada, encetou uma viagem interior que a pacificou. E talvez tenha, até, sentido felicidade.

[Nesse dia erguia-se um sol primaveril, como este outonal, que não aquece os corpos, mas aconchega os corações.]


Ó, a cara de felicidade.


29 de Outubro de 2008 - 31 de Outubro de 2012

Monday, October 29, 2012

Frase do Dia #33

No fundo de uma «espéce» de arquivo, encontrei este pedaço de texto retirado quase do final de Up at the Villa, de William Somerset Maugham, cujo título em português é transformado em Paixão em Florença. Não concordo com a tradução, até porque bem vistas as coisas, a acção passa-se fora de Florença, assim tipo Fiesole e se há ali paixão, é porque o sentimento é turbulento, até porque no final acaba tudo muito mal. Para quem não quiser ler, há um filme (que por acaso nunca vi) com a Kristin Scott Thomas e o Sean Penn.

«- Mas quais são os seus planos para o futuro?
(...)
- Não me faça pensar nisso agora. Deixe-me desfrutar deste momento precioso. Nunca me aconteceu nada assim em toda a minha vida. Quero apreciar isto para que independentemente do que me aconteça depois, seja uma lembrança que poderei guardar para sempre como um tesouro.»

Saturday, October 27, 2012

Tesourinho deprimente #1 ou série «Das coincidências»


Porcellino I, Março/Abril 2003. Veio uma vaga de calor - contrariando a previsão da vaga de frio - que tornou todos os casacos que levava obsoletos e me fez usar a mesma t-shirt durante alguns dias.


Porcellino II, Setembro 2005. Estava à procura de casa em Florença. Iria acabar por morar em San Frediano, no Oltrarno, bem perto de onde ainda hoje se situa uma das velhas portas da cidade.*


Porcellino III, Janeiro 2009. Fui a Florença cerca de três anos depois de ter deixado a cidade. Já não há comboios que não sejam o Eurostar a ligar directamente Milão a Florença. Fiz a viagem «partida» mas, por causa do forte nevoeiro, acabei por perder o comboio que deveria ter apanhado em Parma. Queria evitar o Eurostar e acabei por viajar nele a partir de Bolonha até Florença. Regressar foi esquisito como o raio.

*A t-shirt é a mesma, apesar de em 2005 ter 25 quilos de roupa para vestir nos meses que se seguiam.

Friday, October 19, 2012

Sem número, número 8


Aquele momento em que finalmente se guardou tudo, fechou-se o documento e, preparando-se para encerrar o computador e finalmente ir dormir, na playlist surge uma música que se queria mesmo ouvir.

Tuesday, October 9, 2012

Sem número, número 7


Hoje passei o dia inteiro com a sensação que estava na Malásia. Pelo menos, da última vez que senti tanta humidade no ar, estava em Kuala Lumpur. E deve ter sido especificamente em Merdeka Square. Gosto muito de dizer «merdeka», que em malaio significa «liberdade». Ainda assim, até hoje me questiono porque uma palavra com tantas semelhanças com um palavrão em português terá um significado tão nobre em malaio. Até porque os portugueses andaram por lá perto, em Malaca. Eu não sou de intrigas, mas isto cá para mim quer dizer qualquer coisa.

Tuesday, October 2, 2012

Sem número, número 6 (parte I)

[A mia ilustríssima Sorella - que tanto respeito e admiro que até escrevo o nosso grau de parentesco com letra maiúscula - disse-me, há dias, que do que ela gostava por estas bandas eram as pequenas estórias parvas que «contava». Atendendo ao seu pedido, aqui vai outra. Das bandas do Oriente, pois claro, porque por lá, meia volta, aconteciam coisas «diferentes». Ah, e já agora, porque quem manda aqui sou eu, posso contar as estórias enquadrando-as como a minha mãe. Ou seja, mencionando pormenores irrelevantes. E dito isto, cá vou eu.]

Como as duas ou três pessoas que lêem este blogue já devem saber - até porque, certamente, são membros da minha família próxima - fui ao Japão há uns anos. Era Primavera e ao nascer do dia, os corvos pousavam nas cerejeiras e podíamos escutá-los no hostel onde estava e... e isto não tem nada a ver com o que quero contar. Era só para acrescentar uns pormenores irrelevantes como às vezes a Mãe faz. Busted!


No tal hostel onde fiquei havia muitos turistas ocidentais e, metendo conversa ao pequeno-almoço uns com os outros na sala comum, fomos saindo em grupos. Sai com um rapaz belga, da Flandres - todos parecem ser de lá - e fomos a Ozakajó, o castelo de Osaka, para depois apanharmos o comboio para Nara.

O moço belga e eu pedimos indicações a um tipo que estava no hostel e que já estava no Japão há uns meses. Ele lá nos disse que tínhamos de passar do metro para a linha do comboio e assinalou num esquema dos meios de transporte cheio de linhas e cores diferentes o percurso que tínhamos de fazer. Hoje já não conseguiria orientar-me sozinha com aquele esquema, porque tudo parecia igual. Caminhos-de-ferro estatais, caminhos-de-ferro privados, loop-line, metro, tudo era o mesmo: linhas cinzentas de gradação diferente num pedaço de papel com uns nomes em alfabeto latino. Aliás, ainda hoje guardo esse esquema e, de cada vez que olho para ele, penso em como terei conseguido sair dali para o aeroporto seguindo as orientações da folha.

A aventura começou logo na primeira estação de metro. Se a memória ainda me é fiel, tínhamos de comprar os bilhetes de metro sabendo para que estação ou grupo de estações nos dirigíamos. Ficámos a olhar durante algum tempo para o esquema na parede da estação, em frente da parede com as máquinas de bilhetes, até que, por não nos entendermos bem nesse ponto, o rapaz apontou para o botão que dizia «Se necessitar de informações carregue aqui» (ou uma coisa do género) e disse que o melhor era falar com alguém dali que nos explicasse como era aquilo. Ele carregou no botão e esticámos as orelhas para escutar bem a voz. E eis que, subitamente, uma cabeça surge da parede, para grande espanto nosso. Uma cabeça a sair da parede, do meio das máquinas encastradas. Saltámos nos nossos lugares, tal o susto, e tenho a certeza que ficámos de olhos bem arregalados a olhar para aquela cabeça que, no mesmo segundo que sai cá para fora, arranca-nos as moedas das mãos, mete na máquina e recolhe-se à parede. Foi tudo muito rápido, mas ainda deu para espreitarmos e percebermos que o interior da parede comportava uma pequena salinha onde o homem passaria as suas horas (ou dias) de trabalho. Agora, sempre que no metro, em Lisboa, os meus olhos pousam naqueles botões próximos das saídas em que deve estar escrito algo como «Para informações, ou falar com um funcionário, carregue aqui», eu penso na cabeça que sai da parede.

[To be continued...]

Thursday, September 20, 2012

Sem número, número 5.1



E pronto, achei que deviam saber do que estava falando. Cá está o Mihaly «blá-blá-blá» como doravante passará a ser aqui designado. Parece que ele percebe da poda.

Sem número, número 5

Há momentos de grande ironia. Ultimamente, a ironia veio esfregar-se na minha cara, embora sem me ter feito sorrir: apercebi-me que, tendo redigido uma tese sobre criatividade, sou uma pessoa onde tal capacidade está ausente.

Passei cerca de um ano e meio a ler livros sobre o tema e afins e a escrever sobre isso. Houve um dia, até, depois de algumas leituras realizadas, em que, a meio da noite, qual um dos casos relatados em Creativity, de Mihaly Csikszentmihalyi, me levantei da cama, peguei numa folha de papel e escrevi a introdução da tese - o primeiro esboço. Ocorreu-me enquanto esperava o sono que não chegava.

Apesar desse episódio, não sou uma pessoa criativa. Quer dizer, talvez até possa ser, mas somente numa área que domine bem - e que agora não me ocorre qual. O que Mihaly «blá-blá-blá» (não sei pronunciar o nome dele. Quando o meu co-orientador, que é também meu amigo, o citou durante a defesa de tese, demorei alguns segundos a perceber que ele estava a pronunciar o impronunciável nome do senhor de origem húngara), afirma, é que, primeiro, a criatividade não é uma cena de geração espontânea, nem vem codificada no genoma. Na verdade, além de, como afirma, não acontecer na cabeça das pessoas, mas na interacção entre elas, deriva da conjugação de três elementos que compõem um sistema, sendo que um deles é um conhecimento profundo da área de actuação/especialização do indivíduo em questão. Dificilmente eu poderia ser criativa em Matemática, dado que aos 15 (!!!) me foi deixada de leccionar e, como qualquer linguagem, se não praticamos, lá se vai gramática e vocabulário pelo ralo da memória abaixo. Não tenho um conhecimento da área. Sei o básico. Isso não me prepara para ser criativa.

Estou a extrapolar, claro,  mas acho que vocês conseguem o ponto, ou numa tradução literal «you get the point». 

Na minha área de actuação já tive os meus momentos, não brilhantes, mas bons. Enquanto trabalhei como jornalista, fui sugerindo alguns artigos e temas e tentei, sempre que possível esgalhar bons leads e boas reportagens, na medida do possível, considerando as linhas editoriais. Não era, nem nunca fui um Hemingway do jornalismo, mas acho que não estou a ser presunçosa se disser que desempenhava bem as minhas funções.

Ainda assim, não nego a minha vertente de proletária da informação. [Ah, sim, não sei se já cá teria sido referido algures, mas eu tenho formação jornalística. Não sou jornalista, porque não tenho sentimento de classe, mas tenho uma licenciatura nisso - vale o que vale, já se sabe - e trabalhei em jornais, ainda que por breves períodos de tempo.] Recordo bem o dia em que percebi que já era uma proletária da informação enformada: foi num sábado, algures no primeiro trimestre de 2008 - se estivesse em casa dos meus pais, conseguia já, com precisão, indicar o dia. Deviam ser umas 15, 16 horas. Tinha ido a uma conferência de imprensa da EDP lá do sítio - já se varreu a sigla da mente - e abordei a questão do aumento do preço da electricidade. Obtive as respostas, vim para o jornal e telefonei ao já falecido senhor do Conselho dos Consumidores - falecido de forma obscura, entretanto, suicídio na China, no continente, dizem eles - que criticou abertamente a decisão. 

Peguei nas notas, transcrevi para o Mac - hoje já não conseguia escrever com aquele teclado - e em 30 minutos, mais coisa menos coisa, tinha meia página feita [meia página de jornal, entenda-se. Deviam ser uns 4000 mil sem espaços]. Reclinei-me na cadeira e fiquei a olhar para o monitor. E atingiu-me. Eu estava a produzir notícias, como quem trabalha numa linha de montagem. Eu era uma proletária da informação. Não havia ali grande reflexão, nada. Eu ia, recolhia informações, citações, vinha, transcrevia notas, criava um conjunto de frases numa estrutura mecânica e estava feito. Eu era uma operária. Só que não lidava com pedaços palpáveis de madeira ou metal. Eu lidava com palavras, dados, informações, que me eram dadas e as quais usava para montar uma coisa. Não vejo diferença entre isso e um operário de uma fábrica.

Foi nesse dia que comecei a ponderar se realmente era aquilo que queria fazer da vida - trabalhava num diário, acrescente-se. Mas claro que o Karma, que é nosso amiguinho, resolveu a situação: criou uma crise e, qual dominó, partindo dos EUA, foi derrubando todas as pecinhas que tinha à frente e eu deixei de ter me preocupar com isso de vir a ser jornalista até ao fim dos meus dias. [Será necessário assinalar o sarcasmo?]

E pronto, isto tudo a propósito da criatividade. Não me alongo mais, porque vou agora ver o que o Mihaly dizia sobre as três componentes e ler alguns dos casos abordados no livro, que incluem «Nobéis» de diferentes áreas, Física, Literatura, e cenas assim, ou então só pessoal muito bem sucedido. Pode parecer que não, mas sempre serve para animar a malta.

Monday, September 17, 2012

Lista #9: Livros lidos desde o início até à metade do ano em que nos encontramos [Take 1]

Com interregnos literários pelo meio, pois, quando o tempo abunda, com frequência apetece apenas inserir a cabeça num buraco, qual avestruz. Claro que é um desejo arriscado: nunca se sabe quando o buraco poderá ser um ninho de vespas gigante. -.-

As Teorias Selvagens, Pola Oloixarac: já aqui falei um pouco do livro e acho que se continuar a dissertar sobre os jovens argentinos inteligentes, mas feios, que vivem neste livro, talvez acabe por matar o interesse alheio. De qualquer modo, gostei do retrato particular deste moço e moça argentinos, de Buenos Aires, que, apesar de tudo, devem configurar alguns dos indivíduos que devem compor o tecido alternativo da capital argentina.

Contra o Fanatismo, Amos Oz: este andava escondido algures numa filinha de livros há alguns anos. É livro de pequenas dimensões, ofertado na compra de um jornal Público de um dia que já esquecido na minha memória. Parece que é uma breve compilação de uns textinhos redigidos pelo senhor autor proferidos em conferências e coisas que tais. Mas é bom de se ler. Mais não seja para se poder conhecer a perspectiva de um israelita lúcido em relação ao conflito israelo-árabe.

Wunderkind, Carson McCullers: quando se gosta de determinados autores, creio ser natural buscarmos todos os títulos publicados com o seu nome. Esta prenda oferecida no ano passado, pelo final de Maio, só se leu no início deste ano, mas valeu a pena. Como já aqui apontei algures no blogue, tem até umas coisas bonitas escritas, que valem a pena ler. É uma compilação de uns poucos - cinco, se não estou em erro - contos da autora, publicados recentemente pela Penguin numa colecção que reúne outros contos ou textos breves de grandes autores.

À Volta da Lua, Jules Verne: é um daqueles livritos velhinhos - quase a cair, na verdade, não sei se da idade, se dos próprios materiais de confecção, se dos dois - da Europa-América, no qual peguei uma vez ou duas desde que o ganhei em qualquer coisa na escola (ainda no tempo do básico). Na altura, pequena, iniciei a leitura desta sequela de Da Terra à Lua e assustei-me e desisti da leitura quando vi umas quantas equações matemáticas para mim equivalentes a russo. Este ano, ao limpar estantes e prateleiras, voltei a cruzar-me com ele e achei que devia ler o livro, mais não fosse para me maravilhar com as previsões do autor. E as equações não me morderam.

Ficções de Guerra, vários:  à distância, é sempre difícil lembrar todos os contos e todos os autores que lemos. Mas houve um em particular cuja leitura apreciei bastante. Uma breve pesquisa via Google permite-me saber o nome do autor português que assina o conto de que mais gostei: José Martins Garcia. Este desconhecido contribui com «Performance», uma história breve, mas plena de humor de «um homem que, chegado a um aquartelamento na selva, não tem cama onde dormir». Apesar de apenas possuir uma vaga ideia do que foi a Guerra Colonial, este conto contraria tudo o que se poderia esperar de uma narrativa sobre  o conflito. Vale tão a pena. Tenho de encontrar o livro que inclui este conto, Katafaraum é uma Nação. Tenho mesmo.

[E foi isto que aconteceu até Abril. Pede-se desculpa pelo atraso, mas sou pessoa com uma vida - quer dizer, às vezes - para viver.]

Sunday, August 26, 2012

Sem número, número 4

Hoje, durante uma esforçada corrida - foi o terceiro dia desde que reiniciei a actividade física após semanas de imobilidade -, ao sentir dores, recordei-me de uma manhã em que acordei cedo, cerca de umas 6.30, 7.30, tomei o pequeno-almoço e me dirigi à farmácia mais próxima para comprar uma embalagem de Nurofen. Paguei, traguei dois comprimidos de uma assentada, dirigi-me ao teleférico e subi à montanha. Era o penúltimo dia de ski dessa minha estreia (e até agora, para minha tristeza, única incursão) na neve. E não havia dor muscular que me fosse impedir de subir a montanha até ao topo da última pista vermelha e descê-la o mais rápido que pudesse.

Em pouco mais de seis dias, aprendera a equilibrar-me, a travar, a curvar, a ganhar velocidade, a dar pequenos saltos, a esquiar. [Para quem se tinha em tão má conta no capítulo da prática desportiva, serviu para perceber a força e a imensidão da minha preguiça. E também o quão diferente teria sido a minha vida se alguma vez tivesse feito frente à preguiça - e aqui imagino uma preguiça gigante (o bicho) a fazer-me peito. Mas isso já é pura parvoíce.]


Vou lembrar-me até ao fim dos meus dias da primeira visão que tive da montanha, cá do fundo, junto às pistas verdes: eu soube, algures nas minhas entranhas, que queria e iria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para subir aquela montanha e deslizar até cá abaixo; eu a deslizar naquele manto branco; eu a escutar o silêncio do vento e dos esquis a rasgarem a neve; eu, tranquilamente, a esquiar e a divertir-me ao máximo (Claro que para isso seria necessário um domínio mínimo da coisa). Subi, desci, caí tantas vezes que perdi a conta, levei com algumas pessoas desgovernadas em cima, zanguei-me com a instrutora eslovaca, chorei e maravilhei-me perante as minhas capacidades de aprendizagem. Pela primeira vez em anos, ambicionara algo e conquistara-o. And ain't that something?

Agora, sempre que vejo uma embalagem de Nurofen, penso em ski. Mas ou é mero reflexo pavloviano ou a  memória a ser parva.

PS - A cereja no topo do bolo, o efeito inesperado de tudo isto foi ter perdido o medo/pavor (!) das alturas. Essa é que eu não esperava, mas tem-me sido bastante útil. Principalmente para caminhar sobre pontes/plataformas de vidro e/ou transparentes sem ficar paralizada, em pânico.

Thursday, August 23, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #20


Deve ser um dos postais de que mais gosto, ainda que na altura não recebesse muitos - foi algures em 2006/2007, anos antes de saber o que era sequer o Postcrossing. Foi uma amiga minha, que encontrando-se no programa Erasmus na Holanda, viajou até Berlim e de lá mo enviou. Eu só viria a conhecer Berlim no final de 2010, numa viagem que fiz com a minha irmã para visitar uma amiga cazaquistaneza (tive de ir ao dicionário para saber como se escrevia o nome de um habitante do Cazaquistão, oh my -.-'). Gostei muito da cidade, apesar do pouco tempo que lá estive, e acho que esta imagem é-lhe bastante adequada.

Wednesday, August 22, 2012

Sem número, número 3



Ontem, ao conduzir numa estrada que conheço de cor, lembrei-me de estar num bar em Osaka, algures no meio de Namba, a beber uma cerveja (das completas, não uma meia-cerveja) com um rapaz belga a morar em Pequim e um neo-zelandês que partira a perna a esquiar algures em Hokkaidó. Estavamos sentados à janela e passou um Toyota MR2. Na rua havia umas quantas moças vestidas de meninas de colégio em cartão em tamanho natural. E eu pensei para mim que aquilo era mesmo muito japonês.  

Sem número, número 2



Quando eu era jovem (15 anos, ou à volta disso), dava-me para ouvir Rammstein, ver filmes de David Lynch – embora falte ainda visionar o Eraserhead – e ler O Nome da Rosa. Continuo a achar que me podia ter dado para muito pior. 

Tuesday, August 14, 2012

Cenas da vida no campo #1


Às vezes, cá em casa, houvera uma espécie de foguetão, e a vida seria igual à cena que abre este vídeo.


Outros dias há, em que me apetece fazer o mesmo que o Zio Teo. Porém, do topo da nossa cerejeira, gritaria outras palavras.

Frase do Dia #32

Porque sim. Porque o céu se encheu de nuvens e se acinzentou:

«O amor não é a felicidade.
Se não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em corrigir-nos, em louvar nos outros o que nos falta a nós. 
Os homens que tomaram a resolução de detestar os seus semelhantes ignoram que é preciso começar por se detestarem a si mesmos.»

«Poesias, Prefácio a um livro futuro», integrado em Cantos de Maldoror, de Isidore Ducasse, Conde de Lautréamont.

Wednesday, July 11, 2012

Coisas que me tiram do sério [sempre em actualização]

Ou que me irritam profundamente, ou apenas fazem praguejar:

#1 - O Sapo Blogs estar sempre a «emperrar» e/ou dar erro.
#2 - A Amazon estar constantemente a anunciar inovações e/ou alterações ao Kindle Fire: só falta integrarem um microondas e um canivete suíço.
#3 - Fifty Shades of Grey e todos os artigos/posts/notícias que dizem coisas como «o que significa o sucesso do livro», «vende triliões e bate recordes» e tudo o que analisa «o fenómeno»: pessoal, há mais coisas no mundo e mais importantes que um livro cujo género é apelidado de «mommy porn».
#4 - Tudo o que diga respeito ao Relvas.
#5 - Os lábios da Lana del Rey: aquilo parece o resultado de uma queda de cara no chão (quando era pequena caí de cara no chão e fiquei com o lábio inchado como o dela).
#6 - A estúpida alergia que o meu corpo resolveu fazer a um antibiótico.
#7 - As falhas da minha Internet e, na generalidade, todos os serviços de telecomunicações que prosperam, apesar de fornecerem um serviço de má qualidade e explorarem os clientes.
#8 - Ser forçada a usar o Internet Explorer, porque não consigo recorrer ao mesmo serviço de e-mail num só browser.
#9 - Traduções manhosas em filmes, blogues, artigos de jornais on-line (não vou sequer referir nomes...), tipo «textbook: livro-texto». WTF?

Tuesday, June 12, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #19


Podia haver uma série «David Lynch» neste blogue: livros, filmes, séries, influências, meditação transcendental, and so on, and so on - tudo isso já aqui se mencionou. Dado que é suposto que a minha colecção de postais inclua postais dos meus filmes favoritos - ou, pelo menos, marcantes - Mulholland Drive não poderia ficar de fora. Vi-o com uns 16 ou 17 anos numa sessão do clube de cinema da escola onde estudava. O professor  responsável pelo clube, fumador de charutos, havia decidido mostrar alguns filmes de Lynch e, além de Dune, passou também Mulholland Drive. Associo, por isso, ao filme, o odor de charuto a arder que circulava pela sala, durante a projecção do filme.

Wednesday, May 16, 2012

Frase do Dia #31

Outro russo. Este, de seu nome Máximo Gorki, escreve desapaixonadamente o seguinte, em Vinte e Seis e Mais Uma:

«O silêncio é terrível e doloroso apenas para aqueles que disseram tudo e já nada têm para dizer, enquanto, para aqueles que nunca tiveram nada para dizer, o silêncio é simples e fácil...»

That's it.

Wednesday, May 2, 2012

Frase do Dia #30

O Crocodilo, de Fiódor Dostoievsky, é um manancial de trechos fabulosos (e absurdos, também). Começo aqui por citar um dos diálogos que considero mais interessantes:

[Contextualização: um homem, Ivan Matveitch, vai ver uma exposição onde figura um crocodilo e acaba na barriga do animal. Um amigo do homem na barriga do crocodilo procura soluções para o ajudar e pede conselho a um funcionário seu colega mais velho, Timofey Semyonitch.]

«- Imagine - afirmou ele -, sempre pensei que isto lhe acabaria por acontecer, certamente.
- Porquê, Timofey Semyonitch? É um incidente deveras invulgar...
- Admito-o. Mas toda a carreira do Ivan Matveitch no emprego estava a caminhar para este fim. Ele era deveras inconsistente e presunçoso. Estava sempre a falar do progresso e de ideias de todos os tipos, e é isto que o progresso traz às pessoas!
- Mas foi um incidente invulgar e não pode servir de regra aplicável a todos os progressistas.
- Sim, com efeito, pode. Garanto-lhe que é o resultado de instrução a mais. Pois a instrução a mais leva as pessoas a meterem o nariz onde não são chamadas.
[...]
- Ivan Matveitch anseia pelos seus conselhos, anseia pela sua orientação. Ele suplica por eles, com lágrimas nos olhos, por assim dizer.
- Com lágrimas nos olhos, por assim dizer! Hum! Isso são lágrimas de crocodilo e não se pode confiar muito nelas.»

Tuesday, May 1, 2012

Frase do Dia #29

A propósito dos livros velhos (re)encontrados no escritório e dos russos, eis este trecho retirado do mini-livro Contra o Fanatismo de Amos Oz, que foi oferecido, num dia já distante, com o jornal Público:

«O bairro estava cheio de tolstoianos - pessoas que acreditavam na ideologia de Tolstoi -, alguns até tinham o mesmo aspecto e vestiam-se como Tolstoi. Deixavam crescer a mesma barba branca e usavam uma espécie de toga russa cingida por uma corda. Pareciam mais tolstoianos do que o próprio Tolstoi. Quando, pela primeira vez, vi uma fotografia de Tolstoi na contracapa de um dos seus romances, estava convencido de que era alguém do nosso bairro. [...] Deste modo, eram tolstoianos, mas muitos deles tinham saído directamente de um romance de Dostoievski porque tinham uma mente e uma alma muito torturadas, cheias de contradições, de raiva e conflito. Diria até mais: aqueles dostoievskianos tolstoianos pertenciam, na realidade, a uma história de Tchekov. O espírito real do bairro não era nem Tolstoi nem Dostoievski: era Tchekov. A nostalgia de lugares longínquos. Em algum lugar para lá do horizonte estava a amada cidade de Moscovo, Moscovo...»

Sunday, April 29, 2012

Frase do Dia #28

Carson McCullers, a senhora do Lonely Hunter - que é o Heart - e que faz parte das minhas principais escolhas literárias, sempre que possível. Aqui, numa das short-stories reeditadas pela Penguin em Wunderkind.

[Breve contextualização: o homem que se dirige ao rapazito que distribui jornais e que acaba de entrar no café explica-se a propósito da sua teoria sobre o amor e sobre como se apaixonou.]

«"I'm not explaining this right. What happened was this. There were these beautiful feelings and loose little pleasures inside me. And this woman was something like an assembly line for my soul. I run these little pieces of myself through her and I come out complete.»

Monday, April 23, 2012

Frase do Dia #27

Sem aparente espectacularidade, este trecho de Rentes de Carvalho, retirado de La Coca, ficou gravado na minha memória:

«Para mim 1963 tinha sido um ano mau. O princípio de 1964 mostrava-se ainda pior, o que por uns meses me levou a trocar Amsterdam por Paris. [...]
Em circunstâncias semelhantes, a vida quase sempre se encarrega de dar às situações um toque de absurdo. Assim me acontecia ser convidado com frequência para festividades em que a abastança dos presentes era tão natural que não ocorreria a ninguém que andasse por ali um depenado. [...]
Essas discrepâncias do meu viver devia-as em parte a Madame, que nessa altura já regressara a Paris e vivia então num maravilhoso apartamento do número 7 da Rue des Grands Augustins. Picasso, para ela também como para o lorde, un très cher ami, era o vizinho de cima e eu, com a admiração que o artista me merecia, quando cruzava com ele na escada ou na cour, fazia-lhe respeitosamente a vénia.
Até ao dia em que o acaso quis que o mestre viesse a sair quando Madame e eu íamos a entrar. Beijos dos dois - curiosa cena, aquela mulher muito alta a beijar Picasso - apresentação. Um aceno e um olá do mestre, em seguida uma afirmação críptica da minha amiga: José c'est le jeune homme dont je vous ai parlé. Corei, confuso por não saber do que se tratava, e Picasso rindo da minha confusão, agarrou-me familiarmente pelo braço:
- Tudo acaba por se arranjar, meu rapaz, o principal é saber usar la coca.
Por um instante petrifiquei, julgando que o génio da pintura tivesse perdido o juízo e me recomendasse ali sem rebuço o vício da cocaína. Mas no momento seguinte já ele apontava para a minha cabeça:
- La coca, hombre, la cabeza, la tête! Só se precisa dessa. O resto... - e com um floreado Au revoir! saiu para a rua.»

Sunday, April 22, 2012

Sem número, número 1

Calçaram-se galochas - o tempo adivinhava chuva. A chuva não veio - caíram somente umas gotas. O dia correu, os sorrisos calaram-se. A indumentária não foi apropriada para as condições atmosféricas, mas adequou-se ao dia de chuva que pairou sobre o espírito.

Wednesday, April 11, 2012

Frase do Dia #26

Num dia cinzento, sentada à secretária a escrever, eis que, uma vez mais, o olhar cruza-se com a lombada de um título específico e folheia-se o livro. O que daí calhou, foi o seguinte:

«...a estupidez constitui um encanto especial numa mulher bonita. Pelo menos, conheci muitos maridos entusiasmados com a estupidez das suas esposas e que vêem nela todos os sinais da ingenuidade infantil. A beleza produz verdadeiros milagres. Todos os defeitos espirituais de uma beldade, em vez de causarem repugnância, tornam-se de algum modo incrivelmente atraentes, e o próprio vício, nelas, respira beleza; porém, se a beleza desaparecer, a mulher precisará de ser vinte vezes mais inteligente do que o homem para inspirar, se não o amor, pelo menos o respeito.»

Lê-se em «Avenida Névski», conto de Nikolai Gógol incluído na colectânea Contos de São Petersburgo. E é por trechos como este que adoro os russos.

Wednesday, March 14, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #18


Se não fosse o intuito desta série animar os meus dias, eu dissertava um pouco mais sobre este filme, tremendamente deprimente - bom, é redundante, parece-me, já que Lars von Trier é sinónimo de cenas deprimentes. Mas hoje não, porque se começar a dissertar sobre o filme, vou ficar ainda mais deprimida do que estou. Tive tristes notícias, ainda que não me afectem directamente e depois, claro, há que lidar diariamente com as minhas frustrações que são como bombas de estilhaços: destroem tudo o que há em volta.

Lembro-me da primeira vez que vi este filme. Ao final de 20 minutos, talvez, quando a tragédia acontece, percebi logo o que ia acontecer e desfiz-me em lágrimas. Daí até ao final do filme, acho que desidratei, porque nunca parei de chorar. Estava a viver o tormento da Selma e senti-me na obrigação de lhe dar a mão (neste caso, atenção) até ao final do filme, que corresponde também ao seu próprio fim. Daí o choro contínuo: alguém tinha de a chorar, mais não fosse pela nobreza da sua atitude incompreendida.

Ainda assim, há que dizê-lo: embora o núcleo da narrativa seja doloroso, o final é redentor. E isso já é animador.

Tuesday, March 13, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #17


Às vezes, em vez de um gato, preferia ter um ewok. Isso é que era!

Monday, March 12, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #16



Vi por aí, na infinitude da Internet, que o grande Chuck Norris fez anos no passado sábado. A minha colecção de postais cinematográficos nunca estaria completa se não incluísse um postal com o Chuck em acção.

E, como não podia deixar de ser, aqui fica um facto:

«There is no theory of evolution. Just a list of animals Chuck Norris allows to live.»

Primeiro estranha-se, depois entranha-se #1


Fernando Pessoa era um tipo que sabia o que dizia, claro está. «Primeiro estranha-se, depois entranha-se». Tinha razão. A Pola está a dar-me algum trabalho, mas isso não é necessariamente mau. Talvez por anteriormente ter lido alguns livros «fáceis» - ou que não suscitaram muito do meu interesse e entusiasmo, quando comecei a ler As Teorias Selvagens fiquei confusa. Ou melhor, não estava a conseguir acompanhar o enredo muito bem. Parei na página 65 e pensei arrumar o livro na prateleira, amaldiçoando o dinheiro gasto e o poder de sedução da Pola - decidi comprar o livro depois de assistir em streaming à mesa em que ela participou, em conjunto com Valter Hugo Mãe, na Flip.

Não sei por que motivo, talvez a conjunção cósmica do momento, o posicionamento dos astros, mas, provavelmente graças à minha dificuldade em abandonar um livro a meio, duas semanas depois, voltei à secretária, peguei n'As Teorias Selvagens e recomecei desde o início. Uma vez mais, vá-se lá saber porquê, comecei a nutrir algum afecto pelas personagens fisicamente pouco atractivas desenhadas pela Pola. E estou a gostar bastante do livro.

Afinal, o poder de sedução da Pola estende-se à sua escrita. Mas primeiro estranha-se, depois entranha-se e no final, gosta-se.

É mesmo feia, a Pola, não é? (Pola Oloixarac na Flip.)

11-3-11

Cherry Blossom Girl foi o nick que adoptei ao criar este blogue. Surgiu pouco tempo depois de ter visitado o Japão, em Abril de 2008, no que considerei um golpe de sorte. Cheguei ao País do Sol Nascente em plena Primavera e sakuras era coisa que por lá não faltava. Fiz a viagem sozinha - o avião transportava mais passageiros, claro, mas acho que percebem o que quero dizer - e, embora não tenha visitado as cidades onde estive sozinha, a maior parte das fotos foram tiradas apenas por mim. Inclusivamente e principalmente aquela que figura no meu perfil do Blogger.

Este foi sem dúvida um dos acontecimentos da minha vida. E uso o termo «acontecimento» no mesmo sentido que é utilizado no domínio do Jornalismo - ou pelo menos nos livros que nos mandam ler quando estudamos Jornalismo. Um acontecimento é algo digno de ser noticiado. É algo importante, raro, que acontece fora da rotina. Foi esse o caso da viagem ao Japão. Recordo-me - embora o sentimento seja hoje mais esbatido, um pouco erodido pela passagem do tempo - que me senti verdadeira e profundamente feliz enquanto lá estive: sentia paz, tranquilidade, alegria e tinha a clara noção de que estava a concretizar um dos tópicos da minha lista «Coisas a fazer antes de morrer» com apenas 22 anos.

O Japão é, por isso, um lugar muito especial para mim. Ainda que a minha passagem por essas terras tenha sido breve e poucos lugares tenha visitado, fui muito bem recebida e, tal condicionamento pavloviano, associo o Japão a felicidade (um sentimento ausente de mim durante tantos anos e, como tal, hoje muito valorizado).

Há um ano, o Japão também registou «um acontecimento». Ou pior: três eventos numa só catástrofe. Um sismo de elevada(íssima) amplitude, um tsunami (gigantesco) e um acidente nuclear. A realidade ultrapassou a ficção. Recordo-me do choque das imagens das enormes ondas varrendo vilas, cidades. Casas arrastadas, barcos galgando estradas inundadas. Vi também, pela primeira vez, um fenómeno assustador: fendas percorrendo passeios e jardins, expandindo-se e fechando-se, manifestando à superfície as tensões que emergiam das profundezas da terra. Antes de ter acontecido era inimaginável. Mas aconteceu e tornou-se um facto. 

Durante um mês - dois, talvez? - assistimos diariamente, no conforto das nossas casas, bem assentes num chão menos propício a terramotos, à agonia dos sobreviventes, à dor da perda, à fome, ao seu sofrimento. E, como se não fosse suficiente sobreviver a uma catástrofe natural de tamanhas dimensões, havia ainda que tentar sobreviver à catástrofe «artificial», à radioactividade. Falou-se muito na central nuclear de Fukushima - que até então, quantos fora do Japão saberiam da sua existência? - do facto de a central não ter resistido às forças das águas, ao sismo. Falou-se no grupo de homens e mulheres que permaneceu no interior da central, tentando impedir o pior, ou, pelo menos, tentando minimizar os danos. Para o mundo, o Japão ficou associado a tragédia.

Passou um ano. Fez hoje um ano que o sismo atingiu o Japão e desencadeou o tsunami, o «acidente» na central nuclear, milhares de mortos, centenas de pessoas afectadas pela radioactividade, um pontapé na economia japonesa, acendeu um debate sobre energias renováveis, entre muitos outros efeitos impossíveis de contemplar em conjunto. Passou um ano. O tempo erodiu o espaço dado pelos meios de comunicação social à catástrofe do Japão. Afinal, já passou um ano e o Japão é distante - geograficamente e culturalmente. Passou um ano. Quantos se recordam ainda do dia exacto em que o tsunami varreu o País do Sol Nascente? Passou um ano. Quantos, fora do Japão, terão lembrado, nos meses que se seguiram ao sismo até hoje, o que se passou? Passou um ano. Independentemente de jornais e canais de televisão, estou certa de que na memória dos sobreviventes o tempo que passou não erodiu a memória do que aconteceu no dia 11 do 3 do 11.

Friday, February 24, 2012

When life gives you lemons... #2


...use them as salad dressing. And salads will do you some good.

Sunday, February 19, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #15

A propósito de David Lynch...


... este foi o primeiro filme dele que vi, devia ter 12/13 anos. Ainda criança, vi uns episódios de Twin Peaks dos quais pouco me recordava. Tanto que, quando há alguns anos decidi rever a série, percebi que a música que tanto me assustava em pesadelos recorrentes era afinal a música do genérico de Twin Peaks. Ah, David (e Angelo Bandalamenti), sempre a marcar a vida dos espectadores!

Wednesday, February 15, 2012

Se numa noite de Inverno* uma leitora #2

Numa soalheira tarde de Inverno, a leitora, sentada à sua secretária, sentiu um piscar de olho de Dino Buzzati. Quando a noite fria chegou, a leitora decidiu-se finalmente a abrir o livro e a levá-lo consigo para a lareira (já Calvino dissertara naquele livro cujo título partilha semelhanças com o deste post sobre a necessidade de uma leitura confortável e cómoda). Sentou-se na ponta do sofá, pés apoiados no degrau da lareira, pousou com cuidado o livro nos joelhos e abriu-o, folheando delicadamente as páginas. «I sette messaggeri» é o primeiro dos Sessanta racconti. Leu sozinha em voz baixa, pronunciando vagarosamente os vocábulos italianos, ponderando o significado de cada um. Comoveu-se com a história do príncipe viajante em busca dos limites do seu reino. Leu a sua solidão, a sua morte. Entristeceu pensativamente. Terminou a leitura. Fechou o livro. Levantou-se, olhou as brasas mortas. Saiu da sala. Desapareceu na noite.


* Pois, a estação do ano e o frio que se faz sentir correspondem mesmo a isto. O Calvino sabia muito. E sabia bem como as noites frias empurram os leitores para leituras à beira da lareira.

Saturday, February 11, 2012

When life gives you lemons... #1



...you make lemon juice and get slimmer.*


*Not mad at life. Just trying to prove I'm smarter than it is. 

Wednesday, February 1, 2012

Lista #8: Não ter trabalho dá muito trabalho

Uma lista sobre os trabalhos empreendidos para conseguir sobreviver à ausência de trabalho remunerado - e isto sem chegar à cansativa fase de entrevista.

1 - Rever, reler e corrigir um CV implica paciência e uma boa memória, além de resistência psicológica: relembrar as más experiências laborais passadas traz alguns instintos psicóticos à superfície. Subitamente, fica-se com vontade de criar bonequinhos de vodoo de antigos chefes e picá-los com agulhas e alfinetes.

2 - Criar contas em sites de emprego é uma seca. Implicam 264 passos até a criação do nosso perfil estar completa e, para que a busca de empregos compatíveis com o nosso perfil seja eficaz, acabamos por receber muito lixo na caixa de correio. Mais um exercício de paciência, naturalmente.

3 - Escrever cartas de apresentação e/ou motivação é equivalente a um esfaqueamento auto-infligido com um alicate de unhas. É doloroso aos bocadinhos e implica coragem - para mim, pelo menos, que sou muito má a fazê-lo (Porque me incutiu a minha mãe aquela ideia de que mentir é feio, quando, na verdade, é tão necessário, principalmente em ocasiões como estas? Agora, esse pensamento ficou enraizado na minha cabeça e contrariá-lo torna-se muito difícil. -.-)

4 - Acordar todos os dias para fazer isto é um exercício de auto-domínio: não apetece sair do quentinho para o frio, enfrentar uma caixa de correio vazia e repetir as mesmas acções diariamente sem ter um ataque de raiva.

5 - Encontrar tarefas que ocupem os espaços vazios que decorrem depois da busca de oportunidades de emprego diárias. Ao fim de duas semanas, tarefas domésticas como passar roupa a ferro, estender roupa, arrumar roupa, arrumar cozinha, fazer camas e arrumar quartos tornam-se excruciantes, assim como actividades que deveriam ser prazenteiras, como ler, escrever, ver filmes e comer se transformam em verdadeiros sacrifícios, dada a abundância de tempo ocioso. Conclusão: tudo o que é demais, cansa. Até o tempo livre.

Friday, January 27, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #14*


«Vai um copinho de vinho tinto?»


*Ou um postal a incluir na série «Sobriety is overrated».

Thursday, January 26, 2012

Wednesday, January 25, 2012

Lista #7: Livros lidos desde Abril deste ano* e alguns sobre os quais não me pretendo pronunciar - Parte II

11 - O Amante, Marguerite Duras: saí cheia de expectativa e, afinal, não me trouxe nada que me aprouvesse neste diário íntimo da jovem moça. Mas como de costume, nada como ler para crer.

12 - O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco: vale pelo facto de Eco ser um cultíssimo estudioso e pela propriedade com que escreve sobre os temas abordados. Além de que a temática subjacente vai mais além das típicas conspirações Vaticano-Opus Dei de uns quantos outros que escrevem dentro do género e que para aí andam.

13 - O Historiador, Elizabeth Kostova: livro grande, daqueles com 600 páginas, feito para ler na praia, ou noutro local qualquer, de barriga para o ar. Tem os elementos que nos fazem virar a página e a narrativa é previsível. Bom para passar tempo.

14 - La Coca, José Rentes de Carvalho: o livro das férias, em todos os sentidos. Rentes de Carvalho leva-nos do Minho à Holanda, e eu levei-o - ao livro - de Viana do Castelo a Amesterdão. O narrador fala da sua infância no Norte de Portugal e eu recordo a minha criancice com o meu avô minhoto. Talvez por isso seja suspeita, quando declaro que tanto gostei do livro.

15 - Le Secret de l'Espadon, E. P. Jacobs: comecei ao contrário - primeiro os episódios da animação depois o livro -, mas não me posso queixar: já mal me recordo do que vi. Foi bom, primeiro que tudo, para perceber que o francês não se esqueceu e também para me divertir um pouco com um livro de aventuras.

16 - Uma Conspiração de Estúpidos, John Kennedy Toole: e a propósito de divertimento, não podia deixar este de fora. Foi o livro que mais me fez rir nos últimos tempos. Ignatius Reilly é inesquecível e apesar de passarmos a maior parte do livro a tentar perceber o motivo do título, no final, as peças encaixam e há, efectivamente, uma conspiração de «estúpidos».

17 - A Trilogia de Nova Iorque, Paul Auster: acho que Paul Auster não faz o meu tipo. Demasiados detectives, demasiados problemas de identidade.

18 - Sputnik, Meu Amor, Haruki Murakami: outro que me passou um pouco ao lado. Li-o com grande velocidade, tentando compreender onde era suposto chegar, mas quando lá cheguei fiquei bastante desiludida. Não sei ainda se Murakami faz o meu género. Mas dar-lhe-ei uma hipótese: Norwegian Wood repousa na secretária.

19 - O Memorial do Convento, José Saramago: é belo, muito belo. Apreciei o contraste entre classes, enamorei-me da história de Baltasar e Blimunda. Confesso com alguma vergonha que Saramago ainda não entrara na minha dieta literária, mas depois desta maravilhosa experiência, será regular.

20 - As Teorias Selvagens, Pola Oloixarac: this is a work in progress. Quando terminar, dou notícias.

* Deste ano que era 2011 e já passou a 2012. 

Monday, January 23, 2012

Lista #7: Livros lidos desde Abril deste ano* e alguns sobre os quais não me pretendo pronunciar - Parte I

Em Abril ainda me encontrava a ler livros e papers que reforçassem a parte teórica da dissertação final de mestrado. Mas a necessidade de outras leituras foi mais forte e fui pegando nos livros fininhos da estante para desenjoar. O resultado foi este, por ordem cronológica.

1 - A Tentação do Ocidente, André Malraux: a troca de correspondência entre um chinês na Europa e um europeu na China não é assim tão emocionante quanto pensava. O livro foi lido a custo, embora a perspectiva da personagem chinesa fosse sem dúvida a mais interessante, desiludida com alguns dos traços do pensamento ocidental.

2 - Nadja, André Breton: foi mera coincidência os Andrés serem lidos um após o outro. Há muitas referências a outros surrealistas, nomeadamente a Man Ray, ao longo do texto e o livro acaba por deixar perpassar muitos aspectos característicos do sentimento - será isso, sentimento? - surrealista. No entanto, não sei até que ponto Nadja é uma obra de ficção, ou se assenta em eventos reais. Será uma mistura de ambos, talvez. Honestamente, cheguei ao final a pensar que os indivíduos desta época estavam de facto muito à frente, ou então eram apenas um pouco alterados.

3 - O Japão é Um Lugar Estranho, Peter Carey: o autor de Oscar e Lucinda é um apaixonado pelo País do Sol Nascente e perfeitamente habilitado a escrever sobre ele. O livro foi lido por motivos óbvios - para confrontar a minha percepção do Japão com a do escritor - e o resultado foi bastante satisfatório: as nossas ideias sobre o país são semelhantes, embora a minha estadia por lá tenha sido muito mais breve que a dele.

4 - Nenhum Olhar, José Luís Peixoto: é como se, subitamente, Garcia Márquez tivesse ido até Galveias. E, sim, eu sei, este não foi o seu primeiro romance, mas esse ainda não comprei e, como tal, ainda não li. (Oh, private joke...)

5 - Naïf. Super., Erlend Loe: não conhecia, mas rapidamente compreendi o seu sucesso nos países nórdicos. Embora soe a feel good book, não o é. As verdades difíceis estão todas lá. Custe o que custar. Ah, e claro, oferece soluções práticas para a resolução de problemas, como as famosas tábuas de martelar.

6 - Crónica dos Bons Malandros, Mário Zambujal: a lacuna foi preenchida e originou muitos sorrisos, à época necessários. Foi muito bom conhecer estes bons malandros e as outras histórias que vêm atrás.

7 - Por Este Mundo Acima, Patrícia Reis: o poder dos livros é imenso. E a Patrícia é uma fabulosa contadora de histórias. Por isso não conto mais, leia-na que vale a pena.

8 - A Noite das Mulheres Cantoras, Lídia Jorge: uma escrita límpida e a perspectiva de uma mulher como nunca eu lera. É o seu último livro, poderá, segundo os conhecedores da sua obra, não ser o mais extraordinário, mas foi através dele que Lídia Jorge me foi apresentada e é a partir dele que espero vir a conhecer todos os seus livros anteriores.

9 - o nosso reino, valter hugo mãe: leu-se de um trago, começou-se pelo primeiro. E valeu bem a pena. É triste, mas profundamente belo. Como a escrita do Valter é.

10 - o apocalipse dos trabalhadores, valter hugo mãe: ao contrário d'o nosso reino, que me comoveu, este apocalipse compôs-se de risos. E, embora não seja tão brilhante como o reino, será porventura um dos preferidos.

* Deste ano que era 2011 e já passou a 2012. 

A postcard a day keeps the sadness away #12

Uma preciosidade na minha pequena colecção cinematográfica: versão nipónica de Le Fabuleux Destin D'Amélie Poulain.


Friday, January 13, 2012

Num dia qualquer...

... abri um caderno vazio que descobri no fundo de uma velha gaveta. Voltei a ter seis anos e aquele era o cheiro das folhas brancas que nunca foram usadas, à espera que alguém lá deixe um pouco do que é.

Francisco Goya, detalhe de Perro Semihundido