Wednesday, October 21, 2020

Equilíbrio

Se fosse fácil encontrar um equilíbrio, todos seriamos acrobatas e viveríamos no ar, entre cordas e piruetas. Seria fabuloso, assim uma espécie d'O Barão Trepador circense. Mas não é o caso e o narrador não é Italo Calvino: não é fácil manter o equilíbrio e, por maior que seja o esforço, os pés falham e, quando se dá conta, estamos na rede (quando existe uma).

O equilíbrio é o «estado neutro entre duas forças opostas», define a Treccani. É o que, a meu ver, deveria ser sinónimo de «ideal normal». Ser equilibrado deveria corresponder à norma. Seguir a direito pelo estreito caminho de cabras neste desfiladeiro pelo qual caminhamos, sem escorregar ou cair. Como os acrobatas, deveríamos tentar manter-nos ali, na corda, pé ante pé, com a respiração certa, até chegarmos ao outro lado. Mas o equilíbrio não é fácil, ao contrário da queda.

Associo, assim, o conceito de dualidade, ao equilíbrio. O que me agrada. Apesar do equilíbrio estar também muito próximo da imprevisibilidade. O que é, para mim, um dos poucos confortos que temos - se pensarmos que temos apenas uma única certeza trágica. Sabemos que vamos morrer. Isso e os impostos são os únicos elementos que temos como adquiridos. O resto é uma incógnita. 

Os optimistas sairão à rua em festa perante a constatação, enquanto os pessimistas optarão por ficar em casa, não vá o diabo tecê-las: todos sabem que o mafarrico se esconde atrás da porta, normalmente do lado de fora, claro.

Não sou optimista, mas a fatalidade também me parece algo de exagerado, como os poemas de amor dos autores românticos alemães. Esse será o meu único equilíbrio: esperar sempre o pior cenário possível com um fio de esperança. Aí fico no meio. Não por ser onde está a virtude, mas porque, excepcionalmente, procuro distribuir equitativamente o peso, de modo a tocar em ambos os lados. Excepcionalmente. Eu, que sou uma criatura de forças opostas que torturam os poucos que de mim se abeiram. Não concebo, contudo, outra forma de viver que não esta, de oposto em oposto, dando o meu melhor para me equilibrar e não cair. E, se tiver de cair, tentando não o fazer de vestido e de perna no ar (situações que já ocorreram concomitantemente, à porta de casa).

No comments:

Post a Comment